Pazienza: derrota e niilismo
Joca Reiners Terron
28.12.16
A geração de Andrea Pazienza foi marcada pela derrota ideológica, aderindo ao niilismo de extração punk como forma de reação. O consumo de heroína, combatido anteriormente pela Autonomia Operaia, alastrou-se. O hedonismo desesperado da série de quadrinhos protagonizada por Zanardi, um machista cínico e manipulador, investigou a insinuante presença do mal nas ações cotidianas, no sexo e na falta de sentido das relações completamente desprovidas de afeto, a não ser aquele emanado pela associação masculina em prol da esculhambação mais sórdida.
O começo do fim
Joca Reiners Terron
27.10.16
Não é simples atingir aquele ponto em que não há mais retorno, é o que costumo elucubrar em minha condição de quase cinquentão; Seconds (no Brasil, O segundo rosto), de John Frankenheimer, chegou aos cinquenta anos em outubro de 2016. Parece prudente, portanto, verificar como reage à passagem do tempo um filme que aborda justamente a crise de meia-idade masculina diante das possibilidades abertas pela contracultura norte-americana de finais dos anos 1960. Por tabela, reflito sobre como no meio do caminho desta vida me vi perdido. É o ponto a ser alcançado, segundo o aforismo de Kafka, mas o que acontece a partir dele, quando se está solitário, sem sol e sem saída?
Informes do lado escuro
Joca Reiners Terron
30.04.14
Sai no Brasil "A Máquina do Bem e do Mal", terceiro volume de contos do jornalista e escritor argentino Rodolfo Walsh, metralhado por militares em 1977, um ano após sua filha ser assassinada. Ele classificava sua literatura como "um avanço laborioso através da própria estupidez".
À sombra da montanha García Márquez
Joca Reiners Terron
18.04.14
Para aqueles nascidos com as ditaduras latino-americanas em curso, o escritor colombiano tinha a solidez de um busto e a ubiquidade de uma efígie postal: um clássico em vida, com o acréscimo dos rumores de sua militância política. Com sua morte, enfim minha geração poderá relê-lo sem os prejuízos e preconceitos suscitados por sua presença física de gigante.
Ricardo Piglia: falsificações em cadeia
Joca Reiners Terron
21.08.12
Ricardo Piglia vem pavimentando a recepção crítica da própria obra ficcional desde o início de sua carreira. Em que momento, porém, sua produção como crítico literário suplantou o interesse despertado por seus relatos? Ou melhor: terá havido um instante em que ambas vertentes, a crítica e a puramente ficcional, confluíram para um único leito narrativo, e em consequência produzir contos e romances ou aquilo que se espera de textos assim denominados tornou-se incoerente?