Correspondência

A preguiça do samba

Maria Rita Kehl

27.04.11

Acabo de ler a série de poemas sobre o corpo. Ainda bem que tenho um pouco de tempo (tempo...) de silêncio em mim depois da sua poesia e antes da próxima sessão. Conheço todos eles, dos respectivos livros. Mas o impacto de ler todos seguidos é grande.

Sem tempo de devaneio

Armando Freitas Filho

25.04.11

Se essa correspondência não fosse pública, eu diria: "rebarbativo Gullar", uma ova! E pronto. Resposta abrupta assim porque a amizade tão profunda e sentida, de mais de 30 anos, que temos um pelo outro sempre permitiu os "contrastes e confrontos", explicitamente declarados e debatidos, sem que isso a afetasse. Mas como escrevemos a céu aberto, ao ar livre como dois BBs no paredão virtual e eletrônico, com gente lendo por cima dos nossos ombros, devo uma declaração a essa galera anônima que bafeja nas nossas nucas: desde os meus 16 anos "pratico" Ferreira Gullar.

Perecíveis e descartáveis

Maria Rita Kehl

20.04.11

Talvez você não queira saber do que te digo: apesar do rebarbativo Gullar ser bem mais velho que você, no meu ranking pessoal você é o mais importante poeta brasileiro vivo. Mas, te dou razão: talvez julgar poesia seja muito mais difícil do que julgar prosa.

Só existe sucessão monárquica para os poetas?

Armando Freitas Filho

18.04.11

Estava pensando: por que será que o Prêmio São Paulo só é concedido ao melhor romance de novatos e veteranos, recém-lançados? Em valor monetário, relativamente falando, ele supera até o Prêmio Camões, pois este contempla o conjunto da obra de uma vida.

Que época pra se viver, diz aí

André Conti

15.04.11

Nos últimos dois anos, fui tentando recompor as peças daquele fim de semana, e anotei de cabeça algumas coisas que eu sei que aconteceram: conheci o Scott, tive uma longa conversa com ele, ficamos amigos imediatamente e, mais tarde, tivemos a mesma conversa, nos apresentamos de novo, ficamos amigos, lembramos que já nos conhecíamos; dancei com Joana, Renata, Ivana, Bebel (ela riu de meu samba rock), Juliana e Francisco; eu e você bebemos um balde de uísque; voltamos numa van, umas quinze pessoas em silêncio, ouvindo o funk "Vou cair na sacanagem/ nas casas de massagem".

Teu protagonista não convence: refaça

Daniel Galera

13.04.11

É por isso que eu amo os editores, porque eles sabem disso, mesmo que não tenham a ambição de serem autores. Eles entendem o processo, suspeito que podem até mesmo sentir o processo e se colocar no lugar do autor em muitos casos, mas estão, grosso modo, livres da vaidade, do desespero, do narcisismo, da segurança, da insegurança, da convicção, da ansiedade, da teimosia, da cegueira, da euforia, da arrogância, da humildade, do medo, da pretensão, para não dizer da eventual megalomania, bloqueio criativo, terror, paranoia, delírio e por vezes loucura do autor.

Chega de carro sem airbag, velhinho

André Conti

11.04.11

Na faculdade eu escrevi contos, não sei onde estava com a cabeça. São uns textos pretensiosos, forçados, ainda bem que só um foi publicado. Mas vou roubar nomes de personagens, duas cenas e uma oração, "No Ceará a terra treme todo dia", que não sei como vou encaixar, posto que meu livro se passa a uma distância razoável de Fortaleza.

Cachorrão brabo

Daniel Galera

01.04.11

Eu ainda nem tinha lido a história e já estava hipnotizado por aquele arranjo: o borrão carrancudo, os cinco anos da menina, o título curiosamente adulto contendo "Amor" e a instrução "você verá uma figura que nunca pensou em desenhar, depois invente uma história" que parecia suplantar qualquer outra definição do impulso ficcional.

Parasitas do afeto humano

André Conti

01.04.11

Não lembro bem em que momento, mas nós compramos uma cadela. Minha única exigência foi que a batizassem de Nádia, em homenagem à companheira de Vladimir Ilich, o nosso Lênin. Era um labrador marrom, extremamente estúpido, com essa agressividade afetuosa dos cães bobões.

Universo paralelo

Daniel Galera

25.03.11

Tenho saudade de tocar em banda. Pena que tu não chegou a ver a Blanched, da qual fui baixista e guitarrista por uns anos, tocar ao vivo. Pós-rock majoritariamente instrumental. A gente fazia uns poucos shows em Porto Alegre, São Leopoldo e Novo Hamburgo, mas tinha um grupo fiel de fãs que sempre aparecia e era uma barulheira infernal.