Claro enigma em discussão no Clube de Leitura

Literatura

03.03.15

O IMS abriu em 16 de setembro de 2014 o seu Clube de Leitura. São conversas em torno de um livro, reunindo um conhecedor da obra e um público de 20 pessoas. A série começou com Itinerário de Pasárgada, autobiografia literária de Manuel Bandeira, com sessões (em setembro, outubro e novembro) mediadas por Eucanaã Ferraz, Elvia Bezerra e Eduardo Coelho.

O segundo livro foi Claro enigma, que teve mediação de Luciano Rosa nos meses de dezembro e janeiro. O Quinze, de Rachel de Queiroz, foi o assunto do clube em 10 de fevereiro e 3 de março, com conversas conduzidas por Rodrigo Jorge, doutorando de literatura da UFRJ.

Como se pode constatar, houve preocupação em diversificar os temas: um livro de memórias, um de poesia e um romance. As memórias voltam na próxima etapa, em 17 de março e 7 de abril: A idade do serrote, de Murilo Mendes. A mediação será de Julio Castañon Guimarães e Elvia Bezerra. Esconderijos do tempo, de Mario Quintana, será o tema de 28 de abril e 5 de maio.

O interesse pelo clube foi tamanho que logo as vagas foram preenchidas. Formou-se uma lista de espera, da qual tem saído os substitutos de quem deixa o clube. Quem tiver interesse em participar de futuras conversas pode se inscrever na recepção do IMS-RJ e aguardar ser chamado, caso surjam vagas.

Ao fim de cada reunião, é feita uma ata, em tom propositalmente leve. As de Claro enigma foram escritas por Elvia Bezerra, coordenadora de literatura do IMS, e Lyza Brasil, assistente da coordenadoria. Leia abaixo.

Na reunião de 16/12/2014 leu-se Claro enigma, um dos livros mais difíceis de Drummond. O mediador, Luciano Rosa, deteve-se inicialmente na contextualização dessa coletânea de poemas publicada em 1951. Depois fez a leitura comentada de “Dissolução”, o poema de abertura. Rose Esquenazi cochichava com a colega ao lado: não estava entendendo e – achava – ia ser difícil entender, mas o bonito foi observar que, à medida que o Luciano ia explicando verso a verso, tudo ia clareando e o grupo ia se apaixonando por Drummond. O que significaria a “cor do galo”, no verso “Vai durar mil anos, ou/ extinguir-se na cor do galo?”, queria saber a Rita, e quando descobriu que “cor do galo” podia significar a cor da aurora, do amanhecer, ela disse: “ah, é porque é poesia, não é?”. Foi engraçado, todos riram, mas a descoberta não deixou de ser importante: ela entendeu o que é poesia.

Elvia Bezerra

Na reunião de 27 de janeiro deu-se continuidade à leitura de Claro enigma, livro de fina e complexa arquitetura drummondiana. Luciano Rosa, mediador dos dois encontros sobre o livro, fez uma retomada da contextualização dessa coletânea, já traçada no primeiro dia, e iniciou logo em seguida a leitura de “Legado”. Sobre este poema, Nádia levantou a questão da memória, Elvia observou o ritmo marcante construído pela repetição de proparoxítonas, e houve ainda grande debate acerca da vaidade/humilde do artista criador e da pedra que reaparece no meio do caminho de Drummond. Na leitura comentada de “Aspiração”, a expressão “hospedarias do vento” se destaca como uma das pérolas de inigualável beleza da poesia drummondiana. Em “Amar”, é o “beijo tácito” que nos fascina. Então, surge a (inevitável) pergunta: “Quem é que inventou essa história de poesia?”. Por que, agora, complemento, quem é que pode viver sem ela?

Lyza Brasil

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