Glorificar a margem

Fotografia

10.12.12

A convite do Blog do IMS, Walter Firmo, um dos principais fotojornalistas brasileiros, escolheu a sua foto favorita do livro Magnum – Contatos.

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Livro antológico, desses que aparecem para ficar na cabeceira da gente, o Magnum – Contatos é avassalador no aspecto de radiografar aquilo que nenhum fotógrafo gosta, revelando desde a genitália, passando por outros órgãos, finalizando no olho, no cérebro e no coração. O livro emociona do principio ao fim, e lê-lo aventurando-se pelas suas fotografias é de um desgaste sobrenatural. Pontuando o que há de melhor num contato, estabelece ao leitor uma visão crítica de como o invento de Niépce se articula à aterrissagem final, quando a frieza humana inserida na iniciativa aciona um botão mecânico traduzindo o que há de melhor naquela prospecção aventureira. Trata-se de um compêndio que escancarará sua biblioteca.

Escolher uma foto favorita e comentá-la é no mínimo torturante. São tantas. Poderia escolher Herbert List, Cornell Capa, Steve McCurry, Elliott Erwitt, Jean Gaumy, Ian Berry, Richard Kalvar, mas ficarei com Cornell Capa, que se alheia à questão do poder operando uma foto por trás da cadeira presidencial:  “…e só se podem ver os espaldares altos e negros das poltronas de couros com tachas onde se lê: ‘Presidente'”. Eu, que trabalhei durante anos no jornalismo diário nos jornais Última HoraJornal do Brasil, sem falar no mundo das revistas coloridas, observava e fazia este tipo de mensagem, quando a obra-prima  noticiosa pode estar no simples adorno que margeia e não enfatiza o enlace principal dos acontecimentos. Trata-se de um olhar cirúrgico a glorificar a marginalidade interessante que estará  sempre à espreita do bojo dos principais acontecimentos, alimentando dessa forma uma visão privilegiada.

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