Leon, Leon, Leon

No cinema

14.10.11

(O título acima deve ser pronunciado em tom heroico-cômico, como bradam em coro os famélicos combatentes do incrível exército Brancaleone, no filme homônimo de Mario Monicelli.)

Detesto necrológios, sobretudo de pessoas amigas, mas não posso deixar de dizer algumas palavras sobre Leon Cakoff (1948-2011).

Conheci Leon há uns vinte anos, cobrindo para a Folha de S. Paulo a Mostra Internacional de Cinema de que ele, mais do que fundador e diretor, era a encarnação. Mas Leon já fazia parte importante da minha vida muito antes disso, pois graças a ele eu tinha visto filmes desconcertantes como Malpertuis, fascinantes como Kaspar Hauser ou esmagadores como Saló.

Tarkowski, Oshima, Paradjanov, Jarmusch, Ming-Liang, entre tantos outros nomes sonoros e exóticos, entraram no meu repertório – e no de milhares de cinéfilos da minha geração – graças a esse sírio-armênio-brasileiro que unia como poucos a faculdade de sonhar e a tenacidade para transformar os sonhos em realidade.

Numa época em que não havia videocassete, muito menos DVD e menos ainda Internet, a Mostra de São Paulo foi essencial para diminuir a nossa ignorância cinematográfica. Nunca houve uma identificação maior entre uma pessoa e uma instituição. Leon Cakoff era a Mostra, a Mostra era – e seguirá sendo – Leon Cakoff.

Cabeça dura, ranzinza, centralizador, eventualmente explosivo, Leon não era uma pessoa de convívio muito fácil num primeiro momento. Era só depois de superar a desconfiança inicial e ver no interlocutor uma pessoa de bem que ele baixava a guarda e deixava vir à tona sua enorme afetividade – não isenta de birras, brigas e resmungos, mas ninguém é perfeito.

Até desse proverbial mau humor – que escondia um sujeito engraçadíssimo, grande contador de histórias – vamos sentir falta agora. Eu, pelo menos, vou.

Assista aqui a uma de suas últimas e mais reveladoras entrevistas, ao programa Provocações, de Antonio Abujamra:

 

Mas acho que Leon gostaria mais de deixar a última palavra com o cinema. Então aqui vai o trailer (espanhol, o que acrescenta graça à coisa) do belga Malpertuis, que encantou os cinéfilos paulistanos em 1985, na 9ª Mostra:

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