O Jurado C da vez

Literatura

24.10.12

O Jurado C é um dos personagens decisivos na vida intelectual brasileira. E não é de hoje. É um ser mítico, com muitas caras e um só objetivo: o alpinismo intelectual, a busca incessante de um atalho entre o anonimato e o brilhareco do pseudodebate intelectual.

Devemos o tipo ao Prêmio Jabuti, que nos permitiu pegá-lo com a boca na botija: maroto, deu notas abstrusas a gente consagrada e, voluntariamente ou não, acabou favorecendo três recém-chegados. Raquel Cozer e Paulo Werneck sustentam hoje na Folha que ele é Rodrigo Gurgel, mas pouco importa a sua identidade: o Jurado C é um estado de espírito – para alguns, de porco.

Por sua boutade esta encarnação do Jurado C vem sendo tratada por muita gente boa  – e ruim – como uma espécie de Robin Hood literário, que tira dos medalhões para dar aos calouros. Pena que nada disso tenha a ver com mérito literário: o Jurado C só trabalha em favor de si mesmo, só pensa nos efeitos que prescindem de causa.

Ele escreve em jornais progressistas e revistas regressivas, está na universidade ou na TV, nas capitais e nas províncias – ah, claro, e também esparramado pela web. Defende o indefensável para se dizer independente. Chuta monumentos e rebentos com voluntarismo napoleônico: é nele, em sua cabeça privilegiada e acima de nossa mediocridade, que está o caminho, a verdade e a vida do Bananão.

Confunde bravata com coragem. Fala mal de quem todo mundo fala bem, fala bem de quem todo mundo fala mal. Dá nota zero a quem não merece, dá nota dez a quem pode merecê-la – mas acaba por avacalhar o elogio ao embrulhá-lo no sensacionalismo.

De quando em quando o Jurado C se põe a demonstrar como gênios são impostores.  E, muito frequentemente, eleva impostores à condição de gênios. Posa de intelectual mas é antiintelectualista, posa de liberal mas é, não disfarçadamente, autoritário.

Num meio intelectual infenso à divergência e surdo à dissonância, o Jurado C quer despontar como um intelectual de opiniões fortes ou ter a nobreza de um agente provocador. Mas é pouco mais do que um comentador de internet que deu certo. Ou seja, é um ninguém consagrado até que surja um novo Jurado C.

* Na imagem que ilustra o post: caricatura de Honoré Daumier.

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