O tempo da canção – quatro perguntas para Edu Lobo

Quatro perguntas

26.04.11

O cantor e compositor Edu Lobo se apresenta hoje no auditório do IMS do Rio de Janeiro [os ingressos estão esgotados]. Edu traz ao palco do Instituto, na íntegra, um dos discos mais importantes da música popular brasileira: O Grande Circo Místico. Composto em parceria com o também cantor e compositor Chico Buarque e lançado em 1983, a obra congregou desde a gênese das canções um apanhado de manifestações artísticas como o balé, o teatro e o circo. Canções como Beatriz e A História de Lily Braun foram regravadas dezenas de vezes, reafirmando a perenidade do trabalho. Edu Lobo conversou com o Blog do IMS sobre como foi voltar ao disco e diz, a despeito das opiniões contrárias, que a canção não morreu.

Trinta anos depois de lançado, O Grande Circo Místico permanece como marco da música brasileira. A que o senhor acha que se deve essa atemporalidade?

O Grande Circo Místico tem uma história muito pouco comum. Quando foi lançado em 1983, teve boas críticas, mas ficou meio (talvez muito) na sombra. Com o passar dos anos as canções começaram a ser gravadas e regravadas por muitos intérpretes, cantores e músicos. Fico, hoje em dia, espantado e encantado com a receptividade do público às canções, especialmente Beatriz, que apesar das gravações fantásticas de cantores como o Milton, a Mônica Salmaso, nunca foi música de rádio, ou seja, acho que ela veio chegando bem devagar. E ainda A História de Lily Braun, gravada pela Gal, A Ciranda da Bailarina, gravada pelos meus filhos e os do Chico (e depois Mônica e a Adriana Calcanhotto), a própria Abertura do Circo, instrumental, Sobre Todas as Coisas, gravada pelo Gil, e até A Bela e a Fera, que o Tim Maia registrou na trilha original, são canções conhecidas de um público mais atento a este tipo de música.

Tendo que se voltar novamente à obra, qual foi a percepção a respeito dos arranjos, das melodias; que tipo de ajuste foi preciso fazer? Ou as canções serão tocadas exatamente como foram compostas?

É claro que os arranjos com o Piano do Cristóvão Bastos e as flautas e saxofones do Carlos Malta são uma redução das orquestrações originais e extraordinárias do Chiquinho de Moraes (na minha opinião e de muita gente o maior de todos os orquestradores brasileiros). Mas, também é claro que as ideias musicais são totalmente fiéis ao trabalho do maestro.

As músicas do disco foram compostas para um espetáculo que unia balé, poesia, teatro e música, cujo disco reuniu um elenco importante da MPB. Como era a convivência entre os envolvidos no projeto? 

A escolha dos artistas deste projeto surgiu das próprias canções: elas é que comandaram as decisões. A convivência nas gravações foi, como sempre, a melhor possível.

Em entrevista recente, Chico Buarque afirmou que “a canção, como a conhecemos, talvez seja um fenômeno próprio do século passado”. Como o senhor interpreta essa afirmação de Chico? Qual acredita ser o papel da canção no século XXI?

Eu, sinceramente, discordo desta afirmação do Chico: estas canções que não tocam mais no rádio, não ficaram aprisionadas no século XX, porque resistem ao tempo e acabam chegando aos ouvidos interessados de uma maneira ou de outra. E, acho eu, que vão permanecer.  “A thing of beauty is a joy for ever” como escreveu o poeta John Keats. Uma bela canção pode ser uma alegria para sempre.

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