Os lugares de Claudia Andujar

Fotografia

21.07.15

O Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro inaugura no dia 25 de julho a exposição Claudia Andujar: no lugar do outro. Publicamos abaixo o texto do curador (e editor da revista ZUM) Thyago Nogueira que abre a exposição.

Família mineira, da série Famílias Brasileiras, 1964

Claudia andujar: no lugar do outro é fruto de dois anos de pesquisa no arquivo da fotógrafa. É também sua primeira grande exposição dedicada à produção que antecede o envolvimento de Claudia com os índios Yanomami, trabalho que começou a desenvolver nos anos 1970 e que a tornou conhecida mundialmente.

Claudia chegou a São Paulo, em 1955, com 24 anos. Nascida na Suíça, viveu na Hungria até fugir com a mãe durante a Segunda Guerra Mundial. A família paterna, de origem judaica e húngara, foi morta nos campos de concentração de Dachau e Auschwitz, na Alemanha. Antes de desembarcar no Brasil, Claudia se refugiou na Suíça e viveu um período em Nova York. Os traumas da guerra, desentendimentos familiares e as mudanças constantes fizeram com que ela se distanciasse de suas raízes e buscasse uma nova vida no Brasil. Sem domínio do português, logo descobriu na fotografia um instrumento de trabalho e de contato com o país. Entre os anos 1950 e 1970, colaborou com revistas nacionais e estrangeiras, participou de exposições de arte e percorreu o Brasil de norte a sul. Em São Paulo, onde se estabeleceu, casou-se com o fotógrafo George Love, que conhecera nos Estados Unidos, e frequentou rodas que incluíam o antropólogo Darcy Ribeiro, o historiador Pietro Maria Bardi e o fotógrafo Marcel Gautherot. Foram anos de descobertas e produção intensa.

Da série Rua Direita, São Paulo, SP, c. 1970

Com foco nas primeiras décadas de sua produção, esta mostra lança nova luz sobre a carreira da fotógrafa. Dividida em quatro núcleos,  a exposição apresenta as diferentes perspectivas com que Claudia explorou a fotografia e o país: a relação com a natureza, a imersão antropológica, as experimentações gráficas e o trabalho no fotojornalismo. Reportagens e ensaios pessoais mostram a amplitude de sua atuação, que se estende dos registros documentais em preto e branco do começo da carreira até a experimentação gráfica colorida da virada dos anos 1960 para os anos 1970.

Reportagem sobre migração feita para a revista Realidade, São Paulo, c. 1969

Desde que chegou ao Brasil, Claudia se aventurou em realidades que desconhecia e se interessou por grupos fechados e marginalizados. Com uma visão humanista, ela usou a fotografia para entender o país que adotara e para descobrir a si própria. Durante toda a carreira, fez questão de se aproximar e se colocar no lugar do outro. Um deslocamento que também se deu no âmbito geográfico, quando foi obrigada a reconstruir a vida em um novo país.

Em 1971, Claudia entrou em contato com os índios Yanomami e transformou a documentação e a proteção desse povo em missão de vida, com contribuições inestimáveis ao país. Nos anos seguintes, a produção ligada aos índios se sobrepôs ao extenso trabalho das décadas anteriores − e boa parte dele ficou esquecida.

Da série Águas, s/d

Claudia andujar: no lugar do outro destaca um período pouco visto e estudado de sua carreira. Com isso, ajuda a entender a originalidade e a complexidade da produção de uma das mais importantes fotógrafas brasileiras. 

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