O valor do riso
Camila von Holdefer
26.10.17
Nem sempre é fácil empregar o humor como ferramenta da militância feminista. Fazer rir, e rir de si mesma, tomar para si toda a dimensão do riso, é botar as coisas em seus devidos lugares e as mudanças em marcha. Que alguns homens não vejam graça nenhuma nisso não é problema nosso.
Aos literatos, a literatura
Paulo Roberto Pires
05.10.17
Kazuo Ishiguro traz ao arraial mundial das letras um período de bonança. Depois de ter emendado Svetlana Alexiévitch (jornalista!) com, heresia máxima, Bob Dylan (compositor!), a Academia Sueca restitui o Nobel de Literatura a quem de direito, um escritor “de verdade”. Ufa. Um escritor simpático, hábil, convencional e de bons modos. Está selada a Pax Literária.
Maracanazo, as elipses e a morte
Carla Rodrigues
13.01.16
É em torno de elipses e de mortes que o jornalista Arthur Dapieve escreve os cinco contos de Maracanazo, em textos que vão do grotesco ao sofisticado numa velocidade que, à primeira lida, pode espantar. Inspirado por autores ingleses como Ian McEwan e o nipo-britânico Kazuo Ishiguro, Dapieve faz com as elipses aquilo que fazemos na vida: subentendemos a finitude pelo contexto, suprimindo cotidianamente elementos que poderiam tornar a morte uma evidência explícita.
Aventuras desmemoriadas
Antônio Xerxenesky
25.06.15
O escritor nipo-britânico Kazuo Ishiguro, conhecido pelo realista Os resíduos do dia, surpreendeu seu público ao lançar, após um silêncio de dez anos, um livro de temática medieval e fantástica, com direito a dragões e ogros. Seu uso de elementos fantásticos foi considerado superficial por alguns, mas há muito o que celebrar no experimento do autor, que oferece novas perspectivas a um gênero que sempre corre o risco de cair na estagnação.
Domesticação da literatura
Bernardo Carvalho
18.03.15
A pior crítica é aquela que revela mais sobre o crítico do que sobre o que ele critica. Não é menos ruim a crítica que se pauta pelo funcionalismo mercadológico e que, em seu convencionalismo previsível de guia de consumo, não consegue conceber que a literatura dependa da liberdade do risco. Costumam ser dessa ordem as resenhas de Michiko Kakutani, crítica do The New York Times, e é o caso em especial da que ela escreveu sobre o mais recente romance de Kazuo Ishiguro, The Buried Giant.