Uma criança grande demais
Bernardo Carvalho
01.09.16
Há relatos sobre Robert Walser, durante sua passagem por Berlim entre 1905 e 1913, que o comparam a uma criança gigante, inconveniente, que conta piadas que ninguém entende e ri fora de hora. O humor e o drama dos textos de Walser vêm dessa inconveniência. Os personagens estão sempre ligeiramente fora do lugar. É ao mesmo tempo engraçadíssimo e inconsolável.
Deus não sabe rir de si
Bernardo Carvalho
11.11.15
O que o perverso está dizendo é que ele está mais próximo de Deus do que dos homens, a verdade está com ele, pois só obedece aos seus instintos. Acontece que, como na lei de Deus, também há uma contradição de base na lei dos instintos e é essa contradição que a obra de Sade escancara, de modo a tornar-se trágica: se o meu instinto diz que devo seguir meu prazer para além de todos os limites, até o assassinato, por exemplo, também tenho que pressupor que os outros ao meu redor, seguindo seus próprios instintos, também poderão me matar por prazer.
Passeios sem Robert Walser
Bernardo Carvalho
11.07.11
Não tenho fetiche por escritores (não costumo visitar seus túmulos nem suas casas, embora a de Dostoiévski em São Petersburgo tenha me deixado muito impressionado). Decidi ir atrás dos traços de Walser em Berlim (onde ele viveu entre 1907 e 1913, depois de ter frequentado uma escola para criados, e quando escreveu e publicou a sua obra-prima recém-lançada no Brasil, Jakob von Gunten) só pra me distrair do meu próprio bloqueio. Achei que um pouco de fetichismo pudesse me ajudar a superar a inércia.