Artes

No acaso, no acidente, no aleatório

Kelvin Falcão Klein

02.10.18

Marcel Duchamp morreu há exatos cinquenta anos. Sua investida irônica contra a seriedade da arte foi fundamental para a arte contemporânea, e seu epitáfio espelha a ressonância de suas ideias anárquicas até hoje: “ademais, são sempre os outros que morrem".

A reprodução da gritaria

Camila von Holdefer

26.09.18

Com ou sem censura, a discussão que se formou em torno da figura e da obra de Robert Mapplethorpe com a polêmica no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, ao mesmo tempo em que diz algo sobre o presente, faz emergir um episódio do passado. Continuamos a explorar e a mobilizar o pânico e o moralismo, buscando brechas na educação e fissuras na tolerância para dizer o que a arte deve ou pode representar, e de que maneira, e para quem.

Desdesenhando o Rio

Karina Kuschnir

05.06.18

A antropóloga Karina Kuschnir apresenta os Urban Sketchers, gigantesca rede mundial formada por pessoas que amam desenhar as cidades. Apesar da paixão pela arte, ela conta que não conseguiu se transformar numa urban sketcher carioca. “O Rio não merece os desenhos que gera”.

Intimidade entre traço e desejo

Christian Schwartz

03.05.17

Qualquer leitor que algum dia tenha se encantado por Virginia Woolf não deixará de reconhecê-la como uma escritora – na falta de adjetivo menos gasto – intimista. Para quem saiba reconhecer os delicados sinais da intimidade, não será difícil se encantar igualmente pela pintura da irmã mais velha de Virginia, Vanessa Bell (1879-1961) – pela primeira vez exposta em extensa retrospectiva com cerca de uma centena de obras na Dulwich Picture Gallery, em Londres.

O maior pintor do Brasil

Rafael Cardoso

16.03.17

Provocou inveja e amargura, em certo meio mais do que restrito, a declaração de Luiz Zerbini de que Elvis Almeida seria “no momento, o maior pintor do Brasil”. O comentário conseguiu desagradar tanto a artistas veteranos, que se acharam preteridos, quanto a outros mais novos, que gostariam de ter sido alvo de um elogio tão público. Não pretendo entrar minimamente no mérito dessa questão. O que se quer discutir aqui é outra coisa: a quem serve esse processo de lançar uma nova promessa?

Políticas do grafite

Leonardo Villa-Forte

30.01.17

O grafite – antes de qualquer debate sobre ser ou não arte –  é uma ação política, e não só pelo que pode dizer ou representar, mas por sua própria natureza: uma inscrição sobre um local não previamente designado para tal. A imprevisibilidade é, antes de tudo, um índice de humanidade. Uma cidade totalmente previsível, onde nada escapa, nada sai do lugar, não é uma cidade limpa, mas uma cidade triste.

Liberdade e luta

Rafael Cardoso

10.01.17

John Berger, falecido no último dia 2, não se contentava com pouco. Aliás, pouco se contentava. Era um radical, no melhor sentido do termo. Desde seu combativo, e delicioso, primeiro livro de ensaios críticos, nunca deixou de denunciar a ganância por poder, dinheiro e celebridade que põe em perigo os valores mais essenciais da humanidade, nem poupou as manobras de um meio cultural que busca enredar a arte em tramas e discursos capazes de esvaziá-la de seu sentido crítico e alinhá-la com os interesses de quem o controla. Tal procedimento, ele nomeava, em alto e bom som marxista, como ‘mistificação’. Arte, para Berger, era liberdade e luta.

Transfiguração ao contrário

Taís Cardoso

12.12.16

Nos últimos anos, o empreendimento de olhar para a própria vida e tentar narrá-la tem aparecido em uma série de romances de autoficção. Além disso, recursos metanarrativos se misturam a perspectivas atravessadas pelas artes visuais, que aparecem em situações do enredo. A aproximação entre autoficção e arte pode ser explicada tanto pela insuficiência dos formatos, em tempos de vida compartilhada pela internet – seja da literatura, da história ou das artes – como também pela arte ter adquirido uma dimensão mais narrativa, que necessita de uma espécie de percurso investigativo para ser acompanhada.

Vida longa ao espírito revolucionário

Carla Rodrigues

07.11.16

O silêncio é, de certa forma, o protagonista de um filme de juventude de Anri Sala, Intervista (Finding the Words), realização de 1997 quando Sala ainda era estudante de cinema em Paris. Havia apenas cinco anos a pequena Albânia tinha deixado de ser um país comunista, e Sala encontra no fundo de uma caixa um rolo de filme de 1977. Nele, sua mãe, Valdet Sala, então uma das jovens lideranças políticas, participa de uma solenidade oficial do partido e concede uma entrevista. No entanto, embora as imagens estejam intactas, o áudio do filme se perdeu. É aí que entra o subtítulo do filme – procurando as palavras –, que lança Sala numa aventura de recuperação das falas da mãe.

Breve ensaio sobre a delicadeza

Felipe Scovino

03.11.16

Ao assistir Anri Sala: o momento presente, mostra em cartaz no IMS-RJ até o dia 20 de novembro, Felipe Scovino se deparou "com uma circunstância cada vez menos exercida no cotidiano, mas que encontra uma força indelével em muitas obras de artistas visuais: a delicadeza". Ela aparece na mostra sob as mais distintas configurações, e estabelece relações com três artistas brasileiros que têm a suavidade, a delicadeza e a sutileza como leitmotiv de seus trabalhos. São eles: Brígida Baltar, Cao Guimarães e Thiago Rocha Pitta.