Entre os livros da biblioteca de Drummond disponíveis no Acervo do Instituto Moreira Salles, encontra-se o Dictionnaire du cinema universel, de René Jeanne e Charles Ford. Trata-se de um volumoso (mais de 700 páginas com fonte pequena) dicionário de cinema francês de 1970. Não é o único livro do tipo na biblioteca do poeta. Drummond também tinha Una historia de cine, de Angel Zúñica, Introdução ao cinema brasileiro, de Alex Viany, e várias outras obras panorâmicas sobre a história do cinema.
O que faz de Dictionnaire du cinema universel uma peça especial na biblioteca é a “participação colaborativa” do poeta no livro. Em diversos verbetes, Drummond acrescentou informações: às vezes colocava uma data à caneta (geralmente, a data da morte da pessoa); em muitas outras, incluiu um recorte de jornal referente ao ator, atriz ou diretor mencionado naquela página. Fotografias, matérias e até mesmo caricaturas são alguns dos anexos. A maioria se refere a atores e atrizes famosos de Hollywood, como Joan Crawford.
Isso não quer dizer, obviamente, que Drummond só assistisse a filmes hollywoodianos. Em O observador no escritório, o poeta comenta filmes de Eisenstein, Tati e Resnais. Sua visão sobre os filmes em questão não costuma ser positiva, no entanto. Sobre O ano passado em Marienbad, define a obra como “droga pretensiosa e tediosa”. Mon oncle, de Jacques Tati, é “Longo, monótono, nem sempre atinge o alvo”. Claro, não temos acesso a todas as opiniões do poeta sobre cinema, mas é possível afirmar, com base nesta pequena amostragem, que Drummond não trocaria a beleza de Joan Crawford pelo intelectualíssimo cinema francês.
* Antônio Xerxenesky é redator do site do IMS. Este post contou com o apoio do pesquisador Fábio Frohwein de Salles Moniz.