Editor da revista serrote, escritor e jornalista, Paulo Roberto Pires lançou esta semana o seu segundo romance, Se um de nós dois morrer. Desde o primeiro, passaram-se 11 longos anos. “Gostaria de dizer que foi devido ao esmero”, diz o autor. Paulo Roberto entrelaça ficção e realidade em pequenos trechos que se assemelham a ensaios — e transforma o escritor espanhol Enrique Vila-Matas em personagem. Théo, um fetichista literário em busca de reconhecimento, serve de guia para a trama.
Presença constante no blog do IMS, Paulo Roberto respondeu a quatro perguntas sobre o novo trabalho. As respostas seguem abaixo.
Onze anos separam Do Amor Ausente (Rocco, 2000) e Se Um de Nós Dois Morrer (Alfaguara, 2011). O intervalo se deveu a um bloqueio criativo ou ao esmero literário?
Gostaria de dizer que foi devido ao esmero. Mas o intervalo tem mais a ver com um bloqueio. Nada dramático, com as cenas de o autor desesperado diante da folha em branco. Simplesmente a coisa não engrenava. E, como costuma acontecer, quando deixei de me aborrecer com isso, rolou.
Se Um de Nós Dois Morrer traz referências explícitas à obra e ao estilo literário do espanhol Enrique Vila-Matas — que é um dos personagens do romance — e confunde realidade e ficção. Como a ideia de escrever com esse entrelaçamento tomou forma?
Tudo veio da leitura de O mal de Montano. Usei o Vila-Matas como um “terapeuta” quando tive que falar para um grupo de analistas cariocas, a Letra Freudiana, sobre como eu era um não-escritor. Depois desta conversa, que por coincidência acaba de ser publicada pela Letra na revista Lugar, passei a enfrentar Vila-Matas escrevendo, moendo suas referências para livrar-me dele.
Você editou alguns dos novos escritores brasileiros, entre o fim dos anos 1990 e o começo dos anos 2000 e teve um papel destacado na criação da Flip. Há algum tipo desconforto em submeter sua obra novamente à apreciação da crítica, do jornalismo e aos escritores que você editou?
Nenhum desconforto. O editor que também é escritor faz parte de todas as tradições editoriais e só agora começa a ser comum no Brasil. Acho que é parte do jogo.
No seu livro há instruções de como abandonar um romance. Alguma nova sugestão a quem queira fazê-lo com Se Um de Nós Dois Morrer?
Eu abandonaria Se um de nós dois morrer no cemitério de Montparnasse, o que já justificaria uma viagem a Paris. Mas veria com muito bons olhos esquecê-lo, de forma cuidadosamente displicente, num bar de Paraty semana que vem, durante a Flip. Acho que o livro encontraria o destino de Théo.
Na imagem que ilustra o post: detalhe de uma sepultura no Cemitério de Montparnasse