Se um de nós dois morrer – quatro perguntas a Paulo Roberto Pires

Quatro perguntas

30.06.11

Editor da revista serrote, escritor e jornalista, Paulo Roberto Pires lançou esta semana o seu segundo romance, Se um de nós dois morrer. Desde o primeiro, passaram-se 11 longos anos. “Gostaria de dizer que foi devido ao esmero”, diz o autor. Paulo Roberto entrelaça ficção e realidade em pequenos trechos que se assemelham a ensaios —  e transforma o escritor espanhol Enrique Vila-Matas em personagem. Théo, um fetichista literário em busca de reconhecimento, serve de guia para a trama.

Presença constante no blog do IMS, Paulo Roberto respondeu a quatro perguntas sobre o novo trabalho. As respostas seguem abaixo.

Onze anos separam Do Amor Ausente (Rocco, 2000) e Se Um de Nós Dois Morrer (Alfaguara, 2011). O intervalo se deveu a um bloqueio criativo ou ao esmero literário?

Gostaria de dizer que foi devido ao esmero. Mas o intervalo tem mais a ver com um bloqueio. Nada dramático, com as cenas de o autor desesperado diante da folha em branco. Simplesmente  a coisa não engrenava. E, como costuma acontecer, quando deixei de me aborrecer com isso, rolou.

Se Um de Nós Dois Morrer traz referências explícitas à obra e ao estilo literário do espanhol Enrique Vila-Matas — que é um dos personagens do romance — e confunde realidade e ficção. Como a ideia de escrever com esse entrelaçamento tomou forma?

Tudo veio da leitura de O mal de Montano. Usei o Vila-Matas como um “terapeuta” quando tive que falar para um grupo de analistas cariocas, a Letra Freudiana, sobre como eu era um não-escritor. Depois desta conversa, que por coincidência acaba de ser publicada pela Letra na revista Lugar, passei a enfrentar Vila-Matas escrevendo, moendo suas referências para livrar-me dele.

Você editou alguns dos novos escritores brasileiros, entre o fim dos anos 1990 e o começo dos anos 2000 e teve um papel destacado na criação da Flip. Há algum tipo desconforto em submeter sua obra novamente à apreciação da crítica, do jornalismo e aos escritores que você editou?

Nenhum desconforto. O editor que também é escritor faz parte de todas as tradições editoriais e só agora começa a ser comum no Brasil. Acho que é parte do jogo.

No seu livro há instruções de como abandonar um romance. Alguma nova sugestão a quem queira fazê-lo com Se Um de Nós Dois Morrer?

Eu abandonaria Se um de nós dois morrer no cemitério de Montparnasse, o que já justificaria uma viagem a Paris. Mas veria com muito bons olhos esquecê-lo, de forma cuidadosamente displicente, num bar de Paraty semana que vem, durante a Flip. Acho que o livro encontraria o destino de Théo.

Na imagem que ilustra o post:  detalhe de uma sepultura no Cemitério de Montparnasse

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