A cinefilia segundo Drummond

Por dentro do acervo

27.08.12

Entre os livros da biblioteca de Drummond disponíveis no Acervo do Instituto Moreira Salles, encontra-se o Dictionnaire du cinema universel, de René Jeanne e Charles Ford. Trata-se de um volumoso (mais de 700 páginas com fonte pequena) dicionário de cinema francês de 1970. Não é o único livro do tipo na biblioteca do poeta. Drummond também tinha Una historia de cine, de Angel Zúñica, Introdução ao cinema brasileiro, de Alex Viany, e várias outras obras panorâmicas sobre a história do cinema.

O que faz de Dictionnaire du cinema universel uma peça especial na biblioteca é a “participação colaborativa” do poeta no livro. Em diversos verbetes, Drummond acrescentou informações: às vezes colocava uma data à caneta (geralmente, a data da morte da pessoa); em muitas outras, incluiu um recorte de jornal referente ao ator, atriz ou diretor mencionado naquela página. Fotografias, matérias e até mesmo caricaturas são alguns dos anexos. A maioria se refere a atores e atrizes famosos de Hollywood, como Joan Crawford.

 

Recorte que Drummond inseriu entre as páginas do dicionário de cinema.

Recorte que Drummond inseriu entre as páginas do dicionário de cinema.

 

Isso não quer dizer, obviamente, que Drummond só assistisse a filmes hollywoodianos. Em O observador no escritório, o poeta comenta filmes de Eisenstein, Tati e Resnais. Sua visão sobre os filmes em questão não costuma ser positiva, no entanto. Sobre O ano passado em Marienbad, define a obra como “droga pretensiosa e tediosa”. Mon oncle, de Jacques Tati, é “Longo, monótono, nem sempre atinge o alvo”. Claro, não temos acesso a todas as opiniões do poeta sobre cinema, mas é possível afirmar, com base nesta pequena amostragem, que Drummond não trocaria a beleza de Joan Crawford pelo intelectualíssimo cinema francês.

* Antônio Xerxenesky é redator do site do IMS. Este post contou com o apoio do pesquisador Fábio Frohwein de Salles Moniz.

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