Além da poeta que influenciou toda uma geração a partir da década de 1970 e teve sua poesia reunida publicada em Poética,em 2014, pela Companhia das Letras, ressalta, no arquivo de Ana Cristina Cesar, sob a guarda do Instituto Moreira Salles desde 1999, a acadêmica e tradutora que ela foi.
De personalidade inquieta, Ana Cristina deixou o Brasil para estudar na Universidade de Essex, na Inglaterra, onde recebeu o título de Master of Arts em Theory and Practice of Literary Translation (mestrado em teoria e prática da tradução literária), em 1980. Desse período, resultaria Escritos da Inglaterra (ensaios e textos sobre tradução e literatura), publicado postumamente, em 1988, com organização do amigo e poeta Armando Freitas Filho, dos mais devotados estudiosos de sua obra.
Entre os trabalhos de Ana Cristina Cesar mais notáveis no gênero, destaca-se The Annotated Bliss (O conto ‘Bliss’ anotado), com 80 notas explicativas, tradução do famoso texto de Katherine Mansfield, que legitima seu talento como tradutora e constituiu sua dissertação de mestrado em Essex.
A tradutora se encantava com o “caráter monossilábico da língua inglesa”, o que a levou ainda a se dedicar a Emily Dickinson, e outros. Na tradução de Ana Cristina, a personagem Bertha Young, de “Bliss”, viveu um momento como se “tivesse de repente engolido o sol de fim de tarde e ele queimasse dentro do seu peito”.
Tal qual a tradutora, que, com sofreguidão, colaborava na imprensa alternativa carioca da época, fazia resenha, edições e traduções, além de dar aulas no ensino secundário, tudo isso na década de 1970. Não foi menor sua dedicação à crítica literária, coletada em Escritos no Rio (artigos, textos acadêmicos e depoimentos), em 1993, também com organização de Armando Freitas Filho.
Sua biblioteca de 646 itens, entre livros, periódicos e teses, está descrita na base de dados do IMS, assim como os 1.613 documentos de seu arquivo, cujas descrições se encontram acessíveis nos acervos de literatura online.