As experiências de Geraldo de Barros

Artes

16.10.14

A partir de 18 de outubro, o Instituto Moreira Salles apresenta em sua sede do Rio de Janeiro a exposição Geraldo de Barros e a fotografia. O pintor e designer Geraldo de Barros (Chavantes, SP, 1923 – São Paulo, 1998) produziu fotografias em dois momentos-chave de sua trajetória. Entre 1946 e 1951, num período de formação, paralelamente à produção de pinturas, desenhos e gravuras, ele vivenciou um intenso processo de criação denominado Fotoformas. O segundo momento corresponde a seus dois últimos anos de vida, de 1996 a 1998, quando, com a ajuda de uma assistente, produziu a série Sobras a partir de seu arquivo de fotos de família, guardado durante décadas.

Exposição Fotoforma, Museu de Arte de São Paulo, janeiro de 1951. Arquivo Geraldo de Barros, Genebra, Suíça / Fabiana de Barros

Geraldo de Barros e a fotografia procura apresentar de forma abrangente a relação do artista com a imagem fotográfica. Além de abordar as séries Fotoformas e Sobras como amplos processos de experimentação, a exposição inclui também pinturas realizadas nos anos 1960 e 1970 sobre fotos publicitárias de anúncios e outdoors. As três fases deixam claro que, para Geraldo de Barros, a imagem fotográfica não era uma representação objetiva da realidade, mas um material passível de ser manipulado de diferentes maneiras. Além de fotografar, o artista cortava, riscava e desenhava sobre seus negativos, sobrepunha cenas, fazia fotogramas e montava pequenos fragmentos de filmes sobre placas de vidro, dando origem a imagens que muitas vezes se confundem com pinturas e gravuras.

Sobras, 1996-1998, tiragem em 1996-1998, Coleção Sesc São Paulo / Fabiana de Barros

Embora o artista seja mais conhecido por seu vínculo com a arte concreta, a exposição demonstra que, ao longo de cinco décadas, sua obra não expressou apenas um olhar otimista e confiante sobre a capacidade do homem de agir racionalmente no mundo. Entre as obras dos anos 1940 e 1950, além de abstrações geométricas que denotam clareza, precisão e dinamismo, há riscos e garatujas que aproximam seu trabalho das obras de pessoas sem formação artística – crianças, indivíduos com distúrbios mentais e artistas naïfs. A pintura dos anos 1960 e 1970 tem conotação grotesca, feita muitas vezes sobre imagens em primeiríssimo plano que exacerbam o caráter deturpador e invasivo da propaganda. As Sobras, sua obra de sentido mais intimista, trazem à tona formas inexatas que articulam a memória e seus lapsos.

They Are Talking, 1964, Pintura a óleo, colagem e nanquim sobre aglomerado, Coleção particular, Fabiana de Barros

Sua atitude diante da fotografia sugere que, talvez, para ele, a verdade estivesse apenas na arte concreta, de acordo com a qual os planos, as formas, as linhas e as cores de uma pintura são uma realidade em si e não devem servir à representação de nada. “Um plano é um plano, uma linha é uma linha, nem mais nem menos”, escreveu o artista holandês Theo van Doesburg no manifesto Arte concreta, que propôs o conceito em 1930. A fotografia, pretenso espelho da realidade, além de revelar as estruturas geométricas das coisas, estaria sujeita à manipulação e ao engano, como toda arte figurativa que não explicita seus recursos. Mas, apesar do descompromisso com a especificidade da fotografia como meio, justamente as mais abstratas da exposição revelam um amplo domínio técnico, bem como o profundo interesse de Geraldo de Barros pela criação de imagens por meio da luz.

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