José Geraldo Couto

Memórias do presente

José Geraldo Couto

01.07.16

José Geraldo Couto associa o documentário Futuro junho, de Maria Augusta Ramos, a uma ideia do pesquisador e professor de filosofia Marcos Nobre, publicada recentemente na Folha de S. Paulo: vivemos um momento de “normalização do caos”, a exemplo do que ocorreu em outras épocas da história do país, notadamente nos anos 1980. O filme estreia dia 7/7 no cinema do IMS-RJ.

Um olhar português

José Geraldo Couto

23.06.16

Um dos grandes cineastas do mundo hoje é o português Miguel Gomes. Com apenas quatro longas-metragens até agora, sua obra é uma das mais criativas e desconcertantes do novo século. Os cinéfilos cariocas têm até o dia 6 de julho a rara oportunidade de ver, em sequência ou na ordem que preferirem, os três “volumes” do monumental As mil e uma noites, de 2015. Cada uma das três partes tem pouco mais de duas horas e compõe-se, por sua vez, de diversos episódios com tênue conexão entre si.

Ficção e memória

José Geraldo Couto

17.06.16

Dois filmes brasileiros muito fortes estão entrando em cartaz: Big Jato, de Cláudio Assis, e Trago comigo, de Tata Amaral. O que eles têm em comum, a despeito de suas diferenças radicais, é o fato de lidarem com a memória como tema e como elemento de construção narrativa. Em Trago Comigo o assunto, grosso modo, é a ditadura militar que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985. Mais especificamente, a brutalidade da repressão aos que se opunham a ela nos chamados “anos de chumbo” (final da década de 60, início da de 70). Dito assim, soa um tanto déjà-vu. Mas é aí que o filme dá mais uma volta no parafuso, ganhando em contundência política e relevância estética.

As crianças invisíveis

José Geraldo Couto

10.06.16

Campo Grande, de Sandra Kogut, rompe com nossa indiferença passiva diante das crianças pobres ao trazer para diante dos nossos olhos dois desses pequenos seres, os irmãos Ygor (Ygor Manoel), de uns oito anos, e Rayane (Rayane do Amaral), de uns seis. Eles aparecem de surpresa no apartamento de Regina (Carla Ribas), uma mulher de classe média e meia-idade, que não sabe quem são e nem o que fazer com eles. Se Sandra Kogut já demonstrara, em Mutum (2007), uma grande competência para dirigir crianças, aqui esse talento se mostra prodigioso: raras vezes se viu na tela um desempenho tão crível e pungente como o de Ygor e Rayane.

Videogame do dinheiro

José Geraldo Couto

03.06.16

Por algum motivo, ou por todos, a especulação financeira – com os desastres sociais decorrentes – tornou-se tema frequente no cinema atual. Depois de O lobo de Wall Street e A grande aposta, agora é a vez de Jogo do dinheiro, com George Clooney e Julia Roberts. Como diretora, Jodie Foster demonstra grande segurança na orquestração dos diversos pontos de vista e no controle do ritmo. Trabalha dentro da tradição e das regras de gênero, mas atualizando-as e renovando-as com a dinâmica de seu (nosso) tempo. O resultado é um dos grandes filmes americanos do ano até agora.

A ruptura do realismo em duas frentes

José Geraldo Couto

27.05.16

Dois filmes brasileiros que estão entrando em cartaz buscam romper, por caminhos bem diferentes, os limites do realismo que tem marcado nossa produção cinematográfica recente. Falo do gaúcho Ponto zero, de José Pedro Goulart, e do paulista Uma noite em Sampa, de Ugo Giorgetti.

Poesia convulsiva

José Geraldo Couto

20.05.16

O cinema japonês tem pelo menos três gênios incontestes: Kenji Mizoguchi, Yasujiro Ozu e Akira Kurosawa. São inteiramente distintos e complementares. Numa simplificação grosseira poderíamos dizer que o tom predominante de Kurosawa é o épico; o de Ozu, o lírico; o de Mizoguchi, o dramático. Uma preciosa caixa de DVDs que está chegando às lojas (e às poucas locadoras que resistem) permite conhecer melhor a esplendorosa filmografia de Mizoguchi (1898-1956).

Do caos à arte

José Geraldo Couto

13.05.16

As cinebiografias tornaram-se nos últimos tempos um gênero à parte no Brasil: muitos são os biografados, mas, no fundo, poucas são as variações na estrutura dramática e narrativa adotada para retratá-los. O cinema torna-se praticamente mero veículo de ilustração de uma trajetória exemplar. A hagiografia se sobrepõe à criação cinematográfica. Se Nise não escapa totalmente desse esquema, alarga significativamente seus limites, ou ao menos busca incorporar alguns dos temas centrais à biografia da protagonista.

Dois cinemas

José Geraldo Couto

06.05.16

Não faz sentido cobrar de um filme aquilo a que ele não se propõe, nem tampouco eleger um tipo único de cinema e avaliar todos os filmes em cotejo com esse parâmetro. Ralé, de Helena Ignez, e Prova de coragem, de Roberto Gervitz, são obras diametralmente opostas, frutos de concepções cinematográficas radicalmente distintas – mas não excludentes. São ambos dignos e legítimos, merecem e devem ser vistos.

O corpo e a paisagem

José Geraldo Couto

29.04.16

Exilados do vulcão, de Paula Gaitán, é um “filme de cinema”, para usar a expressão enganosamente tautológica de Rogério Sganzerla, o que significa que não é teatro nem literatura (embora se nutra dessas linguagens), é algo que só existe na tela e para a tela, em que a luz não apenas ilumina a cena, mas a constitui.