José Carlos Avellar

Dias de fogo

José Carlos Avellar

19.11.12

Brasil: um relato de tortura, que terá entre os dias 20 e 22, no IMS, suas primeiras exibições em cinemas nacionais (seguidas no dia 21 de debate e lançamento da revista Zum 3), se insere no quadro de um cinema militante, herança direta do maio de 68, de certo modo nada muito diferente dos hoje incontáveis registros feitos em câmeras de celulares, modo indignado e urgente de denunciar e reagir ao estado de coisas.

A dificuldade de falar de Shoah

José Carlos Avellar

23.10.12

"Eu não tive a intenção de fazer um documentário. Menos ainda a de acrescentar mais um depoimento a tudo que já foi dito, escrito ou filmado sobre Shoah. Simplesmente, ir até o fundo do abismo e levar o público comigo", explica Lanzmann, acerca do documentário que será exibido e lançado pelo IMS no dia 28, com debate entre João Moreira Salles, Eduardo Coutinho e Eduardo Escorel.

Na estrada

José Carlos Avellar

12.10.12

José Carlos Avellar comenta A última estrada da praia, longa-metragem de Fabiano de Souza que adapta o romance O louco de Cati, de Dyonélio Machado, e é um dos destaques da programação do mês de outubro no IMS-RJ.

Um criador brasileiro

José Carlos Avellar

01.10.12

Em qualquer lugar onde estivesse, Alberto Cavalcanti, cujos filmes serão exibidos no IMS durante o Festival do Rio, levava o Brasil consigo. Em todos os seus filmes, do primeiro ao último, realizados em território estrangeiro, em distintos países, num contexto cultural distante do nosso, existe evidente marca brasileira pois é a criação de um homem que, tendo vivido uma densa experiência europeia, vária e contraditória, manteve incólume sua condição nacional.

O vazio e a ponta preta: Chris Marker (1921 – 2012)

José Carlos Avellar

31.07.12

É bem aí que se encontra o dado singular do cinema de Chris Marker: neste pedaço relativamente pouco importante de sua refle­xão sobre a Europa (e sobre todo o mundo) de um pouco antes até um pouco depois do Maio de 68. Marker fala antes de mais nada de imagens. Ele trata as imagens que formam seus documentários como imagens mesmo, e não como um documento transparente do fragmento de realidade que elas registram.

No reino das sombras

José Carlos Avellar

03.07.12

Com as tripas maiores que o cadáver num quadrado menor que uma tela de cinema, com o doutor que engole em seco e o cadáver que cospe-se no chão, o Fausto de Alexander Sokurov começa a desorientar o espectador. Temos aqui um filme que se apoia na montagem não para colocar as coisas em ordem, mas, ao contrário, para colocá-las em desordem, para desarrumar o arrumado.

A falta que nos faz

José Carlos Avellar

02.07.12

Carlos Reichenbach falava de seus filmes como invenções feitas a partir de uma força impeditiva ou pelo menos limitadora. Filmar não com o que se tem, mas com a falta: para realizar seu primeiro longa-metragem pessoal, Lilian M, relatório confidencial (1974) parou de fazer publicidade, juntou "a sucata do estúdio, equipamento, uma sobra de negativo e uma sobra de herança familiar".

New York, New York

José Carlos Avellar

04.04.12

Para contar uma história de não-ditos, de paixões recalcadas, Shame mostra apenas que esconde a história de seus personagens. Desenquadra. Conta o avesso. Recorre ao fora de quadro como uma máscara, sombra, rastro que não somente remete ao reprimido, mas o revela como ele essencialmente é.

As duas expressões de Clint

José Carlos Avellar

11.01.12

Exagerar às avessas: a expressão que o ator Clint Eastwood usou certa vez para definir seu trabalho em Por um punhado de dólares talvez possa ser tomada para definir também o trabalho do diretor Clint Eastwood. A brincadeira irônica de Sergio Leone - para ele, Clint era um ator de duas expressões, uma com e outra sem chapéu - talvez possa se estender ao gesto essencial da câmera dos filmes de Eastwood.

O que devemos aos gregos

José Carlos Avellar

08.11.11

Primeira das três tragédias filmadas por Cacoyannis - as outras duas foram As troianas (1971) e Ifigênia (1977) -, Electra propõe uma imagem fiel a sua origem teatral. Trabalha o quadro e a movimentação dos intérpretes dentro dele num estilo próximo àquele adotado por Eisenstein na metade da década de 1940 em Ivan, o terrível. As filmagens foram feitas em cenários naturais, mas não registram a paisagem e as pessoas diante da objetiva, de acordo com a prática neorrealista então dominante; ao contrário, transforma, deforma.