De escritores, livros e viagens
Sérgio Sant'Anna
25.07.11
Dos escritores portenhos, conheço pessoalmente César Aira, que me deu a honra de traduzir meu Um crime delicado para o castelhano. O livro foi publicado pela editora Beatriz Viterbo, uma homenagem à amada do narrador de O Aleph, que você deve conhecer muito bem. Uma das tantas coisas interessantes, para o dizer o mínimo, em O Aleph, é que pode ser lido também como uma história de amor, este conto que toca o infinito. Já de Aira pode-se dizer que é um tanto excêntrico e na Argentina é tido como uma pessoa difícil, que não dá entrevistas aos jornais locais. Mas, por alguma razão, gosta do Brasil e dos brasileiros (...).
O futuro no passado
José Geraldo Couto
21.07.11
A primeira rede de computadores da Folha não era muito confiável. Dizia-se que era de fabricação paraguaia. Não tenho certeza disso, mas sei que a todo momento as matérias sumiam das telas, perdiam-se dias inteiros de trabalho, era um deus nos acuda na redação. Lembro-me nitidamente de uma noite em que, próximo do horário de fechamento do jornal, o sistema deu pau. Simplesmente parou, como um carro que "morre" por falta de bateria. Uma cena para não esquecer: o diretor do jornal, Otavio Frias Filho, e os dois secretários de redação, parados em silêncio, perplexos e expectantes, diante do terminal inerte da primeira página.
Cartas na mão ou no micro
Sérgio Sant'Anna
18.07.11
Minha relação com a tecnologia jamais poderá ter a naturalidade da garotada de hoje. Sou uma das poucas pessoas que não possuem nem mesmo um celular. Eu e o grande escritor Luiz Ruffato. Então, entre tantas coisas boas que nos têm trazido esta nossa correspondência, uma é descobrir que o computador e a internet também servem para uma carta mais detalhada que os lacônicos e-mails. Acho também bacana que escrevamos um para o outro, mas com um olho nos visitantes do site do IMS. E fiquei feliz de receber comentários de terceiros e suponho que você também.
A literatura e o indizível
José Geraldo Couto
14.07.11
Estou pensando em Graciliano Ramos e seu Fabiano, de Vidas secas. Ou em Clarice e sua Macabéa, em Guimarães Rosa e seu Riobaldo, em J. M. Coetzee e seu Michael K. Veja que são autores muito diversos entre si, mas que tentam de um modo quase desesperado uma ponte de linguagem com esse outro afásico, impenetrável. Você de certo modo fez isso num conto como "Um discurso sobre o método", não é verdade?
Clássicos para tudo o que é gosto
Sérgio Sant'Anna
11.07.11
Fico até encabulado com os seus elogios a meu livro, em sua carta bonita, leve e solta. Nela você pergunta qual é a minha relação com os clássicos. Não vou dizer que é sempre uma relação fácil, mas os clássicos já me deram momentos de uma incomparável riqueza existencial. Mas confesso que só consegui ler os sete volumes de Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust, na terceira tentativa.
A dívida com os clássicos
José Geraldo Couto
07.07.11
Tenho muitos amigos que torcem o nariz para o Woody Allen, acusando-o de pseudointelectualismo ou mesmo de anti-intelectualismo. Penso diferente. A meu ver, ele brinca, por um lado, com o pedantismo acadêmico, e por outro com a superficialidade intelectual de nossa época, mas ao mesmo tempo sabendo que trabalha com um meio de expressão também ligeiro e superficial, que é o cinema narrativo americano.
A solidão do goleiro
José Geraldo Couto
30.06.11
O goleiro tem também, comparativamente, algo de feminino, não só pelo uso hábil das mãos, mas pelo fato de ter de "cuidar da casa", defendendo a inviolabilidade do lar enquanto os homens (os jogadores de linha) saem para a guerra, para a lida da vida. Claro que isso nada tem a ver com a sexualidade dos arqueiros, muitos deles grandes mulherengos, às vezes até demais, como sabemos.
O Fluminense e meu tio
Sérgio Sant'Anna
27.06.11
Leia abaixo a primeira carta da correspondência entre o escritor Sérgio Sant'Anna e o jornalista e crítico José Geraldo Couto. Pelos próximos dois meses, ambos trocarão cartas semanais no blog do IMS. "E vou contar a você o que pouca gente sabe a meu respeito. Nos dias em que o meu time está passando por momentos difíceis em jogos importantes, invoco o meu tio Carlos, para que dê uma mãozinha, esteja onde estiver, o que significa que eu pelo menos admito que há vida depois da morte."
O que vai acontecer?
Maria Rita Kehl
08.06.11
A correspondência pública que começou com uma forte desavença privada (não conto qual foi, mas gosto de atiçar a curiosidade do leitor) parece que nos tornou mais amigos, e nossa amizade, mais amorosa. Deve ser este o sentido das cerimônias de casamento: ao convocar testemunhas para um compromisso amoroso particular, os noivos talvez sintam-se mais ligados um ao outro.
A mão inteira da escrita
Armando Freitas Filho
06.06.11
Acabo de ver sua carta agora. Jantei, revi um filme de vampiro sueco excelente (Deixa ela entrar) e me sentei aqui, ainda com gosto de sangue na boca, e dei com ela em plena madrugada. O introito de cima acabou combinando com o que você fala sobre poesia. Concordo com tudo ou quase. A variação, mais do que discordância, se dá sobre a inspiração, mais modo de ser do que outra coisa. Sou assim com tudo.
