Correspondência

Proust, Mario Bros e o Sr. Gallimard

André Conti

16.02.11

Fala, bicho, Excelente o fim de semana, hein? Pena que não deu para virar o Super Mario Galaxy 2. Todavia, considero dez horas de jogo e cerca de vinte e cinco estrelas conquistadas um feito e tanto, ainda mais por termos passado daquela fase nauseabunda, que custou duas horas do domingo. E engraçado que você... Continue reading

Cápsulas do tempo

Daniel Galera

10.02.11

Há evidência científica sólida de que as memórias são alteradas no cérebro cada vez que as evocamos. Não é só que a narrativa mental construída a partir dos registros se altera: os próprios registros se alteram. Cada vez que resolvo pensar naquela noite de ano novo e evoco as poucas peças do quebra-cabeça que sobreviveram à amnésia alcoólica, o desenho das próprias peças muda um pouquinho, quiçá muito. Em certo sentido, recordar é literalmente reviver.

Hullo old chaps

André Conti

08.02.11

Acabou que tomamos um porre gigantesco de gim e rum, num pub infecto ao lado de King's Cross. Duas mulheres bem mais velhas que nós estavam jogando dardos, e a gente praticou o gangsterismo afetivo intenso pra cima delas, ainda que sem sucesso. Derrotados, voltamos aos berros pelo metrô e comecei a notar que meu chapa era encrenqueiro. Na descida da escada rolante, ele virou a bunda para dois engravatados que vinham na outra direção e fez um HULLO OLD CHAPS, mexendo as nádegas.

Meu patrício, aí tens o mate!

Daniel Galera

04.02.11

Conti, eu gosto de ficção em prosa e videogames. De narrativas. Pra todo lado que eu olho, vejo apenas semântica e sintaxe em arranjos de interesse inesgotável. Gosto de ondas, de água em geral e de silêncios prolongados. De cães e de seres em estado natural. A ausência de civilização me instiga, embora eu seja dependente da civilização. Sou um verme reacionário e egocêntrico? Às vezes me preocupo um pouco com isso. A pergunta não é jocosa, mas não precisa responder. Um bom amigo às vezes é alguém que propicia sentido ao ato de falar sozinho.

Marx e o moletom vermelho

André Conti

03.02.11

Meu colégio tinha um festival chamado Arteando, que revezava com a feira de ciências. Eu vinha de um sucesso estrondoso na sétima série, com um barômetro que causou sensação. Resolvi apresentar um trecho do manifesto comunista, em forma de peça. Era bem simples: primeiro entrava um amigo que representava a burguesia. A Tatiana fazia a voz do proletariado. Eu era o Marx, claro. E a gente colocou o gordinho do grupo num moletom vermelho; ele era o comunismo. Bicho, foi muito épico.

Deus, política e óculos escuros

Daniel Galera

28.01.11

André,

O recado foi dado. Será o bode. Gosto muito de conhecer histórias e reminiscências do teu passado de militante comunista. A política nunca fez parte da minha identidade. Tenho lá minhas convicções, leio noticiário político, penso antes de votar e tudo mais, mas essa coisa de ser de direita ou de esquerda nunca fez sentido pra mim.

É a mesma coisa com Deus.

Todo poder aos sovietes

André Conti

26.01.11

Oi, Daniel. Olha, acho o bode uma boa. Não gosto muito de frase tatuada, embora uma das minhas tatuagens ? a preferida, por sinal ? tenha um "It's aworld of pain" ali no meio do desenho, que é bem de cadeia. Gosto demais dessa tatuagem, fiz com dezesseis anos e lembro que muita gente me encheu o saco (é um cara com um buraco na barriga e o outro jogando sal na ferida). Um chapa dos tempos de BBS disse que a tatuagem tinha carma ruim, que eu ia ter uma vida dolorida. Nunca é fácil, pra ninguém.