As mães dos meus amigos
Fabrício Corsaletti
10.09.12
Quando eu chegava em casa, depois de uma manhã inteira de "trabalho" na fazenda, olhava pros meus familiares limpos e civilizados com certo desprezo. Eles eram "da cidade", levavam uma vidinha fácil, asséptica, sem perigos aparentes, diferente daquela vida dura, e principalmente muito mais real, da roça.
International Pen Friends
Angélica Freitas
03.09.12
Minha amiga tinha descoberto, por meio de um primo comissário de bordo que fazia voos internacionais via Varig, uma misteriosa organização chamada International Pen Friends, com sede em Dublin, que funcionava da seguinte forma: você preenchia uma ficha com seus dados (sexo, idade, idiomas que falava, e ainda escolhia os países onde queria correspondentes) e mandava tudo com 10 dólares num envelope pra eles. Meses depois, chegava uma listinha com nomes e endereços.
Camisa branca de linho
Fabrício Corsaletti
27.08.12
É tão visual, moderno, engraçado. E me fez pensar o seguinte: se a mulher do poema fosse "loira" e não "loura", ainda seria "doce como um bolo"? Acho que não. Acho que o "ou" ecoa no "o" de "bo", dá solidez, peso, massa à mulher, permitindo que ela seja um bolo. Se fosse loira, seria mais angulosa e aérea. Não seria um bolo. No máximo, uma porção de fios de ovos ou um quindim.
Talvez a palavra útero incomode
Angélica Freitas
20.08.12
E o título ficou aquele mesmo: Um útero é do tamanho de um punho. É uma frase que li na internet há uns quatro anos, quando estava pesquisando textos sobre o corpo da mulher. Encontrei um que lá pelas tantas dizia: "um útero é do tamanho de um punho fechado". Fiquei pensando que é desse tamanho mas cabe tanta coisa ali... Cabem faculdades de direito, de medicina, cabem igrejas inteiras...
Espaço Angélica Freitas
Fabrício Corsaletti
13.08.12
Meses atrás eu estava lendo aquele Guia do Bob Dylan e, num trecho dedicado ao Modern Times, o cara dizia que quando o álbum saiu, em 2006, acusaram o Dylan de plagiar um poeta do século XIX chamado Henry Timrod. Escrevi pro Paulo Henriques Britto, que sabe tudo de literatura em língua inglesa e também gosta de Dylan, e perguntei se ele conhecia o tal Timrod. Ele disse que não. Aí fiquei curioso e encomendei o livro na Cultura. Finalmente chegou.
Uma pessoa esplêndida não está mais aqui
Chico Mattoso
15.05.12
Saber o quanto o mundo pode ser atroz e injusto é uma coisa; experimentar isso, por mais que não seja a primeira vez, é sempre um atropelamento, um pequeno massacre. Passei os últimos dias relendo os emails que troquei com a Chris, como se fosse conseguir extrair algo novo dali, alguma palavra que eu não pesquei, algum pensamento solto e revelador, mas agora as mensagens só me dizem uma coisa: uma pessoa esplêndida não está mais por aqui.
Entre o artista e a obra
João Paulo Cuenca
02.05.12
Semana passada estive em Bogotá, aquela cidade bonita e estranha a 2.600 metros de altura com sua população andina, fria e educada que pode converter-se a qualquer momento num agrupamento de caribenhos alucinados, a depender do horário e estado etílico. Fui para a Feira do Livro, mas, como sempre, o melhor episódio não se passa num auditório cheio de leitores que nunca leram o seu livro.
Groupie meteorológica
Chico Mattoso
21.04.12
O cotidiano do cara é de uma simplicidade extraordinária. Vestindo o mesmo casaco azul, todas as manhãs ele monta numa bicicleta e sai pela cidade atrás de fotos de anônimos, que reúne e publica numa seção do jornal. Por também fazer a coluna social, vive sendo alvo de convites e solicitações, além de ofertas infinitas de mimos e jabás. Ele não aceita nada. Depois de tirar as fotos, volta sozinho pra casa e vai jantar numa deli caindo aos pedaços.
Em lugar nenhum
João Paulo Cuenca
05.04.12
No monastério não há não há luz. Muito menos computador. Estou usando o da loja de lembranças do Tian Tan Buda e a senhora me olha com ar de desagrado - não sei se pelo tempo ou pelo meu ar pesado. O ar pesado que eu ganho quando escrevo.
Desvarios no metrô
Chico Mattoso
19.03.12
Como todos os sistemas de transporte público do mundo, o metrô de Chicago tem personalidade própria, uma vida que independe da cidade que corre lá embaixo. Sim: embaixo. Por algum motivo que está além da minha escassa compreensão, a maioria das estações de metrô em Chicago é suspensa, uma ideia duvidosa se considerarmos que a cidade tem oito meses de frio por ano.
