Ensaio para quem precisa
Paulo Roberto Pires
05.07.11
Obviamente sediada em Londres, a Notting Hill começou a publicar em maio último e tem em seu catálogo oito títulos. Se, como quer Lucasta, o ensaio é um oásis de personalização na algaravia da web, uma editora nestes moldes é igualmente um bem vindo refúgio numa época edições massivas e produção acelerada em que o volume não é nem poderia ser compatível com a qualidade.
Um passeio na Hipsterlândia
Paulo Roberto Pires
30.05.11
A revelação se deu ao me ver refletido entre a vitrine de um café e uma galeria do Brooklyn: de camisa polo, fico uma besta completa. Tio Gay Talese me ensinou que Nova York é uma cidade em que as coisas passam despercebidas. Espero que do outro lado do rio continue valendo a máxima, pois naquela região gente inteligente SEMPRE usa xadrez e listras, cavanhaques e barbichas, chapéus, topetes em diversas direções e óculos de aros grossos.
O olhar errante de Geoff Dyer
James Wood
29.03.11
Podemos apontar os antecedentes e as influências de Dyer - Nietzsche, Roland Barthes, Thomas Bernhard, Milan Kundera, John Berger, Martin Amis -, mas não seus rebentos literários, já que sua obra é tão incansavelmente variada que se muda para alhures antes que possa constituir uma família. Ele combina ficção, autobiografia, escritos de viagem, crítica cultural, teoria literária e uma espécie de lamúria cômica inglesa. O resultado deveria ser um monte de terra e palha mutante, mas é quase sempre uma curtição amalucada e engenhosa.
Ensaístas, uni-vos
Paulo Roberto Pires
25.03.11
A serrote completa três anos. Criada e pilotada até a quinta edição pelo Matinas Suzuki Jr. e desde o número seguinte por mim, a revista tem motivos de sobra para comemorar este aniversário: afinal, são mais de 1.500 páginas publicadas que cultivam o ensaio, gênero popularíssimo no mundo anglo-saxão e, por aqui, associado quase sempre à solenidade acadêmica e à sisudez pespontada por notas de pé de página - que Edmund Wilson chamava, com razão, de arame farpado em volta do texto.
Diante da memória dos outros
Paulo Roberto Pires
16.03.11
Consagrada pelo culto a autores "densos" como Beckett, Walter Benjamin ou Robert Walser, esnobemente hostil ao que via como "vulgaridade", terminou virando cartoon da New Yorker ou, como lembra Lopate, ganhando uma homengem em Gremlins 2 - um dos monstrinhos resume assim a reivindicação de seu bando: "Queremos civilização: música de câmara, Convenção de Genebra, Susan Sontag!". Mas o pior ainda viria: a posteridade e, com ela, as lembranças dos outros. Definitivamente fora do controle de seu ego avantajado.
1966, um ano qualquer
Paulo Roberto Pires
11.03.11
Annus mirabilis é a expressão latina para um ano excepcional, que logo se transforma em marco, farol de uma época. Basta pensar em 1789, 1968 ou 2001 para imaginar livros, aulas, congressos, debates. Antoine Compagnon, titular de Literatura Francesa Moderna e Contemporânea no Collège de France entra no seu sexto ano como professor da instituição máxima do ensino na França dedicando um curso inteiro a 1966, designando-o como annus mirabilis, ou seja, um ano notável, prodigioso, farol.
Shoah, experiência renovada – Por David Denby
Aldir Blanc
24.02.11
Este texto foi publicado originalmente na revista The New Yorker, em sua edição de 10/1/2011. O artigo trata do documentário sobre o Holocausto Shoah e de seu realizador, o francês Claude Lanzmann, ampliando a discussão sobre o extermínio de judeus durante a Segunda Guerra. Lanzmann (que está entre as atrações da Festa Literária Internacional de Paraty - Flip deste ano) lança seu livro de memórias A lebre da Patagônia no Brasil, pela Companhia das Letras, em junho.
O Photoshop de Ródtchenko – Por Peter Campbell
Equipe IMS
22.02.11
Quando Aleksandr Ródtchenko começou a tirar fotos, em 1924, estava com trinta e poucos anos e já era conhecido como um pintor de abstrações austeras e como criador de colagens e fotomontagens. Produziu muitas de suas fotos mais memoráveis durante seus primeiros poucos anos com uma câmera: sua mulher, Varvara Stepanova, sorrindo com um cigarro preso entre os dentes, sua mãe segurando os óculos dobrados sob um olho e diversos retratos de Maiakóvski.
A batuta de Marin, por Alex Ross
Equipe IMS
18.02.11
Marin Alsop é uma ferrenha defensora da música contemporânea e tem dito que queria ter sido uma compositora - que reger, para ela, é uma maneira vicária de se embrenhar no processo criativo. (...) Pupila de Leonard Bernstein, Alsop adota uma postura intensamente física ao reger, fazendo-o tanto com o tronco quanto com os antebraços e mãos. De índole espontânea, ela frequentemente altera andamentos e detalhes de fraseados de uma apresentação para outra.
Monarco e seu anjo
Paulo Roberto Pires
26.01.11
Se eu for falar da elegância e da nobreza de Monarco, hoje eu não vou terminar. Até porque é chover no molhado. Ontem, com a fachada do IMS iluminada por uma delicada chama azul-Portela, ele cantou todo o seu disco de estreia. Disso tudo vocês já sabem (...). Saí emocionado, como todo mundo de carne e osso que por aqui esteve, mas com outro personagem na cabeça. Um ilustre ausente que para mim dividiu o palco com ele: Zeca Pagodinho.