Dia mundial da fotografia

Fotografia

19.08.13
Retrato | Daguerreótipo, c. 1850 | Fotógrafo anônimo (S. L.) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

Retrato | Daguerreótipo, c. 1850 | Fotógrafo anônimo (S. L.) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

O Acervo Fotográfico do IMS começou a ser formado em 1995, com a aquisição da coleção Mestres da Fotografia Brasileira do Século XIX, seguida da aquisição, no mesmo ano, de 44 negativos de autoria de Claude Lévi-Strauss com imagens de São Paulo registradas pelo antropólogo entre 1935 e 1937. Este conjunto inicial de cerca de 2.600 imagens foi ampliado ao longo dos anos, chegando a mais de 850 mil imagens em 2013.

Com a aquisição de acervos como a coleção Gilberto Ferrez, o IMS passou a ter a mais importante coleção do século XIX no Brasil, incluindo praticamente toda a obra do fotógrafo Marc Ferrez, o principal nome da fotografia brasileira desse século. Formou também o melhor conjunto relativo à produção fotográfica brasileira da primeira metade do século XX, incluindo a obra completa de nomes como Marcel Gautherot, Hildegard Rosenthal, Alice Brill, Carlos Moskovics, Henri Ballot e Thomaz Farkas, além de ter um crescente número de autores mais contemporâneos como José Medeiros, Hans Gunter Flieg, Madalena Schwartz, Maureen Bisilliat, Otto Stupakoff e David Drew Zingg.

Neste Dia Mundial da Fotografia, apresentamos alguns daguerreótipos do acervo do Instituto e que integram a coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires, composta por centenas de daguerreótipos, ambrótipos e ferrótipos.

Ao longo das décadas de 1820 e 1830, Louis-Jacques Mandé Daguerre, em colaboração inicialmente com Joseph Nicéphore Niépce e posteriormente com seu filho Isidore, desenvolveu um processo fotográfico positivo no qual a imagem é formada sobre uma fina camada de prata polida, aplicada sobre uma placa de cobre e sensibilizada em vapor de iodo, posteriormente revelada em vapor de mercúrio.

Os daguerreótipos são imagens de alta qualidade e definição, obtidas por um processo fotográfico onde a imagem final positiva é produzida sobre a própria placa exposta à luz na câmera fotográfica, no momento do registro da imagem original. O impacto do anúncio desta descoberta e de sua aquisição pelo governo francês – que imediatamente a colocou em domínio público – percorreu o mundo rapidamente. Jornais de todos os países noticiaram a reunião conjunta das Academias de Ciências e de Belas Artes realizada em 19 de agosto de 1839 em Paris, onde o cientista e presidente da Academia de Ciências da França, François Jean Dominique Arago, anunciou ao mundo esta nova forma de representação visual que revolucionaria os campos do conhecimento, da comunicação e das artes a partir daquele momento.

Desde o início, a daguerreotipia foi utilizada na documentação de paisagens urbanas e naturais, na arquitetura e nas ciências. Mas é no estúdio de retrato que a daguerreotipia se desenvolverá intensamente, transformando-se em um fenômeno mundial, com estúdios sendo abertos em todas as cidades, fossem de países centrais europeus e dos EUA ou em países mais distantes da Ásia, do Oriente ou da América Latina.

Sem dúvida, a propensão da câmera de combinar verossimilhança com metáfora favoreceu enormemente o uso da fotografia neste jogo de aparências que sempre definiu o universo do retrato de estúdio. No retrato fotográfico de estúdio do século XIX, os elementos decorativos e a direção de cena interagem com a expressão e a pose do retratado, que através destes elementos apresenta, constrói e defende sua própria identidade perante o fotógrafo. Desse processo de intensa sinergia, resultaram imagens muitas vezes verdadeiramente reveladoras do caráter e da alma do retratado.

Os daguerreótipos da coleção Waldyr Cordovil são, em sua maioria, retratos anônimos, produzidos em vários países da América do Norte e da Europa, além do Brasil. Membros da mesma família posando juntos, assim como indivíduos que podem ou não ter alguma relação entre si. Constituem um conjunto importante de retratos em daguerreotipia que permitem um olhar sobre a fotografia nas décadas de 1840 e 1850 e sua forma específica de circulação e apreciação naquele período.

Como afirma Gerry Badger em A tale of two portraits (In: The pleasures of good photographs: essays. Nova York: Aperture Foundation, 2010):

A fotografia por definição é uma imagem que carrega em si e nos confronta diretamente com um traço físico-quimico do retratado, i.e., a própria luz sobre o material fotossensível refletida de um indivíduo em um lugar específico em um momento determinado. Se refletirmos sobre isto por um momento, veremos que no retrato fotográfico estamos diante de algo fenomenal, mas certamente um fenômeno de natureza totalmente diferente daquele dos retratos a óleo pintados através da história por mestres como Holbein ou Rembrandt. Nosso relacionamento com o retrato fotográfico, diferentemente do que aquele com o retrato pintado, não é o do especialista (connoiseur), mas sim o do voyeur. Nós olhamos não o trabalho do pintor, mas sim o objeto do fotógrafo, o indivíduo retratado. (…)Se o poder da fotografia como meio de expressão – seu leitmotif ou metapunctum – assenta-se em sua relação com a realidade, ou melhor, com a atualidade, em nenhum lugar é este poder mais aparente do que no retrato fotográfico. Apesar de inúmeras tentativas, se não para romper, pelo menos para subverter a ligação umbilical da fotografia com a atualidade – de experimentações “artísticas” a “alquimias” computacionais -, a fotografia, e em particular o retrato, continuam a desafiar aqueles envergonhados de uma realidade sem adorno. A fotografia continua a nos assombrar principalmente por virtude de sua qualidade como um meio por excelência de natureza documental e realista, por virtude da simples afirmação que diz: “assim é que algo, ou alguém, era então.

Os daguerreótipos aqui apresentados reafirmam este caráter indicial, de registro direto da imagem e expressão do retratado sobre a placa de prata original que compõem estes objetos únicos, responsáveis pela difusão da fotografia junto ao grande público nas primeiras duas décadas de sua utilização em larga escala.

Após o final da década de 1850, a daguerreotipia é substituída pelos processos fotográficos baseados na produção de negativos, que permitiam a posterior produção de múltiplas imagens positivas a partir do mesmo negativo original. Estes processos, mais baratos e mais ágeis, construíram a fotografia tal qual foi praticada de então até o final do século XX, quando a fotografia digital e a circulação de imagens através da internet e das redes sociais ampliaram ainda mais a presença de imagens em nosso cotidiano.

* Sergio Burgi é coordenador de fotografia do IMS.

Retrato | Daguerreótipo, c. 1850 | S.L. | Fotógrafo anônimo | Coleção Waldyr Cordovil/Acervo IMS

Retrato | Daguerreótipo, c. 1850 | Fotógrafo anônimo (S. L.) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

 

Retrato | Daguerreótipo, c. 1850 | Fotógrafo anônimo (S. L.) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

Retrato | Daguerreótipo, c. 1850 | Fotógrafo anônimo (S. L.) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

 

Retrato | Daguerreótipo, c. 1850 | Fotógrafo anônimo (S. L.) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

Retrato | Daguerreótipo, c. 1850 | Fotógrafo anônimo (S. L.) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

 

Retrato | Daguerreótipo, c. 1850 | Fotógrafo anônimo (S. L.) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

Retrato | Daguerreótipo, c. 1850 | Fotógrafo anônimo (S. L.) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

 

Retrato | Daguerreótipo, c. 1850 | Fotógrafo anônimo (S. L.) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

Retrato | Daguerreótipo, c. 1850 | Fotógrafo anônimo (S. L.) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

 

Retrato | Daguerreótipo, c. 1850 | Fotógrafo anônimo (S. L.) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

Retrato | Daguerreótipo, c. 1850 | Fotógrafo anônimo (S. L.) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

 

Retrato | Daguerreótipo, c. 1850 | Fotógrafo anônimo (S. L.) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

Retrato | Daguerreótipo, c. 1850 | Fotógrafo anônimo (S. L.) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

 

Retrato | Daguerreótipo, c. 1850 | Fotógrafo anônimo (S. L.) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

Retrato | Daguerreótipo, c. 1850 | Fotógrafo anônimo (S. L.) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

 

Retrato | Daguerreótipo, c. 1850 | Fotógrafo anônimo (S. L.) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

Retrato | Daguerreótipo, c. 1850 | Fotógrafo anônimo (S. L.) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

 

Retrato de Gustave Flotard | Daguerreótipo, c. 1850 | Fotógrafo: Mayer Frères (Paris) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

Retrato de Gustave Flotard | Daguerreótipo, c. 1850 | Mayer Frères (Paris) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

 

Retrato de Gustave Flotard | Daguerreótipo, c. 1850 | Fotógrafo: Mayer Frères (Paris) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

Retrato de Gustave Flotard | Daguerreótipo, c. 1850 | Mayer Frères (Paris) | Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires/Acervo IMS

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