“Quem lê tanta notícia?”, perguntava Caetano Veloso numa canção de 1967. Diante da programação de mais de 400 títulos do Festival do Rio, que começou ontem (28 de setembro), cabe perguntar: quem vê tanto filme?
Nesse labirinto de produções vindas de todas as partes do mundo, é inevitável a sensação de aturdimento, além da certeza de estar perdendo coisas importantes. Para baixar a ansiedade e fazer do evento uma experiência prazerosa e enriquecedora, o melhor é preparar um roteiro prévio. Há vários itinerários possíveis, de acordo com o perfil de cada cinéfilo.
Haverá, por exemplo, quem queira conferir os trabalhos mais recentes de autores consagrados. Tudo bem. Estarão nas telas do Rio os novos de Coppola (Twixt), irmãos Taviani (César deve morrer), François Ozon (Dentro de casa), Leos Carax (Holy Motors), Spike Lee (Verão em Red Hook), Stephen Frears (Lay the favorite), Mike Leigh (o longa Mais um ano e o curta Corrida de obstáculos), Wes Anderson (Moonrise kingdom), Faith Akin (Poluindo o paraíso) etc. etc.
Brasil, Ásia, América Latina
Quem quiser, por sua vez, conhecer a nova safra nacional terá, entre outros, Chamada a cobrar, de Anna Muylaert; Entre vales, de Philipe Barcinski; Colegas, de Marcelo Galvão; O som ao redor, de Kleber Mendonça Filho; Primeiro dia de um ano qualquer, de Domingos Oliveira; O gorila, de José Eduardo Belmonte; Gonzaga de pai para filho, de Breno Silveira; Éden, de Bruno Safadi; e Meu pé de laranja lima, de Marcos Bernstein. O trailer do filme de Domingos promete:
http://www.youtube.com/watch?v=oaHaGEhU_kE
Os astros do novo cinema asiático marcarão presença: o tailandês Apichatpong Weerasethakul com Hotel Mekong, o sul-coreano Kim Ki-Duk com Pietá, ganhador do Leão de Ouro em Veneza. O mesmo vale para o mais instigante cinema latino-americano, com Elefante branco, de Pablo Trapero, Post tenebras lux, de Carlos Reygadas, e Dias de pesca, de Carlos Sorín, além do longa coletivo Sete dias em Havana.
http://www.youtube.com/watch?v=iGFE0ZQEX2Q
Outro roteiro possível é acompanhar as suculentas retrospectivas, este ano dedicadas a John Carpenter, Manoel de Oliveira, Alberto Cavalcanti e João Pedro Rodrigues, de quem recomendo vivamente Morrer como um homem (2009), seu mais recente longa de ficção.
Documentários
Há ainda os documentários voltados para o próprio cinema, como Roman Polanski: Memórias, de Laurent Bouzerau, Woody Allen: Um documentário, de Robert B. Weide, Jerry Lewis – Loucura e método, de Gregg Barson, e o curioso Quarto 237- Teorias loucas, de Rodney Ascher, que aborda as várias especulações em torno dos supostos sentidos embutidos no filme O iluminado, de Stanley Kubrick.
Por fim, quase um gênero à parte é constituído pelos documentários musicais. Alguns deles:Michael Jackson – Bad 25, de Spike Lee, Neil Young journeys, de Jonathan Demme, Marley, de Kevin Macdonald, e os brasucas Jards, de Eryk Rocha (sobre Macalé), Jorge Mautner – O filho do holocausto, de Pedro Bial e Heitor D’Alincourt, e MPB de câmara, a canção brasileira, de Walter Lima Jr.
Mas o melhor é ter em mãos a programação completa e montar seu próprio quebra-cabeças. Aqui vai ela: http://2012.festivaldorio.com.br/. Agora cada um que se vire. E a partir de 19 de outubro tem a Mostra Internacional de São Paulo. Haja fôlego, haja olhos.
* Na imagem que ilustra a home desse post: o cineasta Manoel de Oliveira, cuja obra é um dos destaques do Festival do Rio.