Extra! Espetacular! Brizola chega! É com manchetes sensacionalistas que Ana Cristina Cesar abre as edições do jornal O mundo, que escreveu, editou e encadernou (isto é, grampeou) em 1961, quando tinha nove anos. O jornal, que mede míseros 7,4 centímetros de altura por 5,1 cm de largura, é uma das várias curiosidades que se encontram no arquivo da autora no Acervo do Instituto Moreira Salles.
Notícias políticas pontuadas com exclamações e às vezes tratadas com humor são a tônica do jornal. “Destaque o cupom abaixo e poderá assistir a chegada do Sr. Leonel Brizola”, oferece uma edição. Sob o título de Espetacular, há uma lista aleatória de animais: “Leão, alce, cavalo, elefante, rato, doninha, anta”. Abaixo, uma pergunta: qual o mais feroz? A resposta está escrita de cabeça para baixo: “O Lacerda, não está vendo?”. Um senso de humor surpreendente e criativo irrompe em páginas como essa.
Outros trechos são mais misteriosos: “HOMENAGEM AOS TIGRES” está datilografado em letras maiúsculas sobre um fundo quadriculado rosa.
Em uma edição, há uma seção de poesia que inclui o seguinte poema:
“O açucareiro,
Tem açúcar.
O açúcar,
Tem açucareiro”
Se é verdade que as aptidões de uma pessoa podem ser detectadas na infância, o talento para a palavra escrita está muito claro neste curioso periódico da poeta. Mais do que isso, essa incursão jornalística de Ana Cristina Cesar sinaliza uma inventividade regida pelo prazer de jogar – como uma criança, no melhor sentido possível – com as palavras.