A exposição Luz, cedro e pedra (em cartaz a partir do dia 23 de outubro no IMS-RJ) comemora o encontro entre Horacio Coppola (1906-2012), uma figura central da história da fotografia latino-americana, e a escultura do Aleijadinho, apogeu da arte mestiça do Brasil colonial. Esse encontro ocorreu em 1945, motivado pelo renovado interesse pelas nascentes da arte autóctone, comum aos intelectuais modernistas tanto na Argentina como no Brasil. O resultado foi uma exposição em Buenos Aires e a publicação de um livro, dez anos depois, contendo uma seleção de 96 fotografias e quatro poemas do espanhol Lorenzo Varela, intitulados:“La leyenda”; “Al cedro de sus tallas”; “Epitafio y balada de la piedra dulce de sus estatuas”; e “Al fotografo”.
Fotografar esculturas é uma questão de pontos de vista. Sobretudo quando se trata das esculturas do Aleijadinho, personagens de um grandioso teatro sacro. O olhar de Coppola compreendeu o caráter decorativo intrínseco ao artista brasileiro: ele transcende a exigência naturalista da verossimilhança e, ao explorar as qualidades sensíveis dos diversos materiais e técnicas, cria uma sempre renovada experiência emotiva do espaço.
Tudo também é uma questão de escolha da luz. Ela pode anular os volumes, transformar o relevo no ritmo de uma silhueta; pode desvendar as sutilezas da modelagem, destacar os planos e as texturas com delicadeza ou com inesperada rispidez. Então, os atores imóveis daquele eterno espetáculo convocam para compartilhar seus sentimentos. Pelos olhos do fotógrafo retorna o tempo que se foi e o tempo que não passa: em Coppola, a quietude perene das estátuas traz de volta, por virtude da luz, a vida e os anseios da época que as esculpiu.