Maloca moderna
José Geraldo Couto
17.03.17
Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé, é, de certa forma, o adendo que faltava ao clássico de Adoniran Barbosa, "Saudosa maloca". Poucos filmes podem ser considerados mais atuais. O que vemos ali é a crônica, entre a ficção e o documentário, do dia a dia de uma “ocupação” no centro de São Paulo, às vésperas da sua “reintegração de posse”, eufemismo para despejo.
Cinema, matéria e espírito
José Geraldo Couto
10.03.17
Apesar de ter conquistado o prêmio de direção em Cannes, Personal shopper, de Olivier Assayas, não foi muito bem recebido pela maior parte da crítica, segundo relatos jornalísticos do festival. Neste caso, vou trafegar na contramão, pois o filme me pareceu no mínimo formidável.
Entre a neve e o fogo
José Geraldo Couto
03.03.17
Premiado com o Oscar de roteiro original, Manchester à beira-mar é um melodrama que, em muitos aspectos, transcende o gênero e ajuda a renová-lo. No atual estágio do cinema hollywoodiano, não é pouca coisa. No filme de Kenneth Lonergan, a tragédia explode em meio à atmosfera melancólica do inverno na praia.
Via-crúcis do corpo
José Geraldo Couto
24.02.17
Uma das proezas do diretor Barry Jenkins é a de encontrar em três atores de idades e aspectos inteiramente diferentes o mesmo olhar de perplexidade, dor e solidão. Esses olhos são o cerne de Moonlight. Depois de tudo, Chiron continua se perguntando quem ou o que é. A ausência de resposta é a beleza maior desse filme surpreendente, que não ignora os condicionamentos sociais, mas também não os vê como um determinismo fatalista e nivelador.
Carlos, João e o Homem Comum
Equipe IMS
20.02.17
No último dia 4/2, a Sala José Carlos Avellar do Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro abrigou uma conversa entre os documentaristas Carlos Nader e João Moreira Salles, como parte dos eventos de lançamento de Homem comum (2016). Assista ao debate na íntegra.
Algo tão irrelevante quanto a realidade
Camila von Holdefer
15.02.17
As boas intenções, como prova o exemplo de Florence Foster Jenkins, não servem como fator atenuante no caso de um resultado desastroso. Entre a concepção e a realização, e não apenas na criação artística, há um longo caminho a ser percorrido. Com a valorização do discurso fácil que procura recompensar aqueles que, a despeito das dificuldades e das limitações, resolvem perseguir seus sonhos, como se a capacidade de idealização devesse se sobrepor à capacidade de realização, a guinada à brandura é previsível. A condescendência na crítica, porém, não vai nos levar muito longe.
Risco e controle
José Geraldo Couto
14.02.17
Estão em cartaz dois belos filmes brasileiros que, por seus contrastes, mostram a diversidade de caminhos que o cinema pode seguir, sem que um deles seja necessariamente mais correto ou oportuno do que outro. Estou falando de Redemoinho (foto), estreia cinematográfica do aclamado diretor de minisséries televisivas José Luiz Villamarim (Justiça, Amores roubados), e de A cidade onde envelheço, primeiro longa-metragem de ficção de Marília Rocha, conhecida por ensaios poético-documentais como Aboio e A falta que me faz.
O mundo como teatro
José Geraldo Couto
10.02.17
Toni Erdmann, da alemã Maren Ade, que concorre ao Oscar de filme estrangeiro depois de ter conquistado uma porção de prêmios em festivais como Cannes, San Sebastián e Toronto, pode ser descrito como uma comédia amarga sobre o nosso tempo. Mas, como veremos, é muito mais do que isso. Ainda estamos em fevereiro, mas já se pode dizer sem medo que é um dos grandes filmes do ano.
Renoir, amigo dos homens
José Geraldo Couto
03.02.17
Uma obra única e essencial, de encanto perene, está quase completa na grande retrospectiva A vida lá fora: o cinema de Jean Renoir, destacando aquilo que lhe perpassa e unifica: o infinito interesse por indivíduos concretos, imperfeitos, contraditórios, mais do que por ideias abstratas, enredos dramáticos ou grandes construções estéticas. Descendo vários degraus na escala de grandeza do cinema, entram em cartaz dois filmes norte-americanos candidatos ao Oscar e ambientados no mesmo período: o início da década de 1960.
Comunicar o incomum
Equipe IMS
30.01.17
Qual o sentido da vida? A pergunta que todo ser humano se faz, pelo menos uma vez ao longo de sua existência, não tem uma única resposta. Se é que comporta alguma resposta. Foi a partir desta indagação, contudo, que o diretor Carlos Nader começou a filmar, em 1995, o documentário Homem comum (2014), novo título da coleção de DVDs do IMS. Durante quase 20 anos Nader acompanhou o caminheiro paranaense Nilson de Paula, registrando suas viagens e a vida em família, e compôs um retrato ao mesmo tempo particular e universal do cotidiano corriqueiro atravessado pela proposição de uma questão metafísica, grandiosa, e nunca resolvida.
