Paris-Japão

Fotografia

13.06.16

Na semana em que a exposição de Haruo Ohara está de mudança do Museu de Arte de Kochi para o Museu de Arte de Itami, no Japão, o acervo fotográfico do Instituto Moreira Salles amplia suas fronteiras de visitação pública com a abertura nesta terça-feira (14/6), em Paris, da primeira grande retrospectiva da obra de Marcel Gautherot fora do Brasil. “Levar os acervos do IMS para outros países é quase uma necessidade para confrontar a fotografia que se faz aqui com a produção estrangeira”, justifica Sergio Burgi, coordenador de fotografia do instituto, que está em Paris desde a semana passada acompanhando a montagem da mostra de Gautherot no espaço nobre da Maison Européenne de la Photographie (MEP). “É sempre uma boa oportunidade de nos submetermos à avaliação da crítica internacional.”

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Fachada da Maison Européenne de la Photographie (crédito: Mariana Newlands)

Em ambos os casos – Marcel Gautherot – Brésil: Tradition, Invention e Haruo Ohara: Fotografias –, a qualidade autoral dos artistas tem ainda a favor da boa aceitação da dupla no exterior o fato de contar com assinaturas de dois entre tantos imigrantes que marcaram a criação da moderna fotografia no Brasil. É como se o IMS estivesse levando de volta, e em grande estilo, Haruo ao Japão e Gautherot à França. Os dois fotógrafos passaram a maior parte da vida no Brasil. “As duas exposições são retrospectivas, com ampla leitura da história dos artistas, uma tentativa de melhor qualifica-los internacionalmente no contexto da produção brasileira”, diz Burgi.

Esta característica de instituição que, muito além do colecionismo, busca preservar para poder interpretar e colocar a serviço público o que está guardando em seus acervos torna o IMS, segundo Sergio Burgi, “algo muito peculiar não só no cenário brasileiro”. O perfil ao mesmo tempo museológico e arquivista distingue o instituto no mundo. Sergio Burgi ressalta neste diferencial o investimento que se faz para colher a produção da vida inteira de um artista.  “Desde o arquivo pessoal, a história de cada um, os processos de estruturação profissional e de apuração artística, a contextualização das obras mais relevantes, todas essas dimensões de pesquisa, preservação e difusão estão na matriz do que a gente está fazendo.” Modéstia à parte, “já somos olhados como parceiros no circuito mundial das instituições de referência”.

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Reisado, de Gautherot, e Brincadeira no canteiro de flores, de Ohara (Acervo IMS)

Marcel Gautherot – Brésil: Tradition, Invention é um passo à frente na relação internacional que o IMS vem construindo ao longo de duas décadas. A curadoria da dupla Sergio Burgi e Samuel Titan Jr. é resultado de trabalhos que um e outro vêm fazendo sobre o fotógrafo desde a aquisição da obra completa de Gautherot em 1999. Estão neste baú os livros O Brasil de Marcel Gautherot (acompanhado de ampla exposição em 2001), Norte (com imagens das diversas viagens amazônicas do fotógrafo) e Brasília (comemorativo dos 50 anos da capital).

A mostra Modernidades fotográficas, em cartaz no IMS-RJ – com trabalhos de Gautherot, Thomaz Farkas, Hans Gunter Flieg e José Medeiros – é outro exemplo de intercâmbio internacional do instituto: com curadoria a quatro mãos de Ludger Derenthal, coordenador da coleção de fotografia da Kunstbibliothek em Berlim, e Samuel Titan Jr., coordenador executivo cultural do IMS, cumpriu temporadas em Berlim, Lisboa, Paris e Madri, antes de chegar ao Rio.

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Sergio Burgi, coordenador de fotografia do IMS, e Marcel Gautherot por Pierre Verger em 1946 (Acervo IMS)

A experiência de trabalho conjunto com pesquisadores de fora do país é, para Sergio Burgi, uma tentativa de entender a produção fotográfica no Brasil num contexto globalizado. “A fotografia surge no século XIX já com este caráter internacional e itinerante.” Segundo ele, a circulação é da natureza da fotografia e, através dela, parcerias vão sendo construídas. Exemplo disso seria a participação do IMS com seu acervo em feiras como a Paris Photo (2013) e, no sentido inverso, a exposição William Eggleston, a cor americana – em 2015, no IMS-RJ – com peças do MoMA, do Museum of Fine Arts de Houston, do acervo pessoal do artista e das galerias Cheim & Read e Victoria Miro.

Burgi cita ainda como eventos importantes na inserção do IMS no circuito globalizado da fotografia o reconhecimento internacional da revista ZUM – manifestado através de convites a seu editor, Thyago Nogueira, para participar do corpo de jurados de festivais mundo afora – e, muito especialmente, a façanha de imprimir os livros Rio, de Marc Ferrez, e Rio, de Robert Polidori, com supervisão direta do editor alemão Gerhard Steidl, referência mundial em publicações de fotografia de qualidade. “Do ponto de vista institucional de difusão internacional, a parceria com Steidl foi tão ou mais importante que uma exposição do IMS no exterior”, compara Sergio Burgi.

As mostras que esta semana ficam simultaneamente em cartaz no Japão e na França já têm planos de prolongamento de temporada. Depois de passar pelo Museu de Arte de Kochi – cidade japonesa onde o fotógrafo nasceu –, Haruo Ohara: Fotografias volta à cena no sábado (18/6) no Museu de arte de Itami e, já compromissada com Museu de Artes Fotográficas de Kiyosato (de 22/10 a 4/12), a exposição vislumbra ainda a possibilidade de fazer escala em Tóquio até fins de 2017. Daí para frente, o projeto tem ainda futuro nas ambições de Sergio Burgi: “Adoraria, a partir de Tóquio, esticar a temporada pela Ásia, passando pela a China e a Coreia do Sul.”  Para Marcel Gautherot – Brésil: Tradition, Invention está sendo negociada uma viagem ao México.

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