A fotógrafa Alice Brill morreu no sábado, 29 de junho, em Itu (SP). Ela, cuja coleção de 14 mil negativos passou para a guarda do IMS em 2000, trouxe a fotografia na bagagem quando veio da Alemanha para o Brasil, fugindo do nazismo. Alice tinha 14 anos quando a família aqui desembarcou em 1934 para encontrar a mãe, que viera na frente, e trazia na bagagem “uma minicâmera Agfa, tipo caixão”, que fazia fotos 3×4 e com a qual registrou suas impressões da viagem por Espanha e Itália, que precedeu a aprovação dos papéis de imigração. A câmera era presente do pai, Erich Brill, um pintor viajante e artista plástico que, dois anos depois, não tendo se firmado em São Paulo, voltou à Alemanha e morreu em 1942 num campo de concentração.
Alice seguiu seus passos profissionais com firmeza, fazendo-se artista plástica, gravadora e ensaísta, além de fotógrafa. Já em 1940 frequentava o Grupo Santa Helena, associação informal de pintores paulistas, onde teve como mestres Paulo Rossi Ozir, Aldo Bonadei, Yolanda Mohaly, Poty e Hansen Bahia. Em 1946, ganhou uma bolsa de estudos e por um ano e meio estudou em Albuquerque, no Novo México, e na Art Student’s League de Nova York, aprimorando-se em desenho, pintura, escultura, gravura, história da arte, literatura, filosofia e fotografia.
De volta ao Brasil, logo começou a trabalhar para a revista Habitat, documentando arquitetura e artes plásticas. Até o fim dos anos 1950, faria da fotografia sua atividade principal. Desde sua participação na I Bienal de São Paulo, em 1951, Alice Brill realizou mais de cem exposições individuais e coletivas, no Brasil e no exterior, e dedicou-se à crítica de arte, sobretudo em artigos publicados no jornal O Estado de S.Paulo e reunidos no livro Da arte e da linguagem (Ed. Perspectiva, 1988). Também de sua autoria são Mário Zanini e seu tempo (Ed. Perspectiva, 1984) e Flexor (Ed. Edusp, 1990).
Em 2005, o IMS organizou a retrospectiva O mundo de Alice Brill. Em sua obra de notável diversidade temática, destacam-se os conjuntos em que retratou a cidade de São Paulo em processo de modernização sob vários ângulos, como se buscasse compor um painel exaustivo, do luxo das mansões de Higienópolis ao mundo do trabalho – e que lhe valeram participação na exposição e no livro São Paulo 450 anos: a memória e as imagens da cidade no acervo do Instituto Moreira Salles, em 2004. Foi também uma talentosa retratista, com olhar especialmente lírico para a infância, e documentou viagens a Ouro Preto, Salvador e Xingu.