Você tem medo de quê?
Carla Rodrigues
22.04.15
Há algo na experiência contemporânea em relação à multiplicação de discursos – de ódio, de pânico moral, de violências – que é impossível compreender. O espetáculo O que você realmente está fazendo é esperar o acidente acontecer, da Cia de Teatro Acidental, é uma excelente provocação sobre o que significam estas disputas de discurso, performatizando um dos temas em pauta nas redes sociais: homofobia, violência e discriminação sexual.
Questão de classe
Carla Rodrigues
08.04.15
Downton Abbey, a série que retrata a vida da aristocracia inglesa no início do século passado, acaba de estrear na TV Cultura, e sua entrada na televisão brasileira tem muito a ensinar sobre uma das questões que atravessam a desigualdade brasileira: a divisão em classes. No Brasil de 2015, como na Inglaterra de 1910, o que entra em colapso quando se reconhece a centralidade da luta de classes é a própria ideia de que há um lugar destinado a cada um.
Sobre sexo, livros e morte
Carla Rodrigues
25.03.15
Chega ao mercado brasileiro Manifesto contrassexual, da autora espanhola Beatriz Preciado. Seu livro-manifesto data de 2002, é um marco na teoria queer, e sua chegada ao Brasil tantos anos depois pode ser considerada sinal de muitos sintomas: do atraso do debate sobre as fortes ligações entre sexualidade e heteronormatividade, de certa forma ainda mantido numa espécie de gueto como se fosse do interesse apenas de uns poucos.
A quem o preconceito mata
Carla Rodrigues
11.03.15
O feminicídio tornou-se circunstância qualificadora do crime de homicídio. Para o bem da política, poderia se encontrar algum similar que coibisse manifestações de ódio e preconceito que estão expressando o pior da misoginia na sociedade brasileira. Não é natural, nem democrático, nem forma de protesto, nem liberdade de expressão chamar nenhuma mulher de “vaca” ou “vagabunda”.
“A barbárie se tivermos sorte”
Carla Rodrigues
25.02.15
O filósofo húngaro István Mészáros propõe uma redução da jornada de trabalho que funcionaria como “dinamite social”. Ela seria baseada em “metas autodeterminadas de realização da vida dos indivíduos particulares" e poderia também alterar relações familiares, promovendo igualdade na divisão das tarefas domésticas. O que me inquieta é ele ser mais um pensador de esquerda a aceitar a democracia liberal como a forma final de governo humano.
Crônica de um verão crônico
Carla Rodrigues
04.02.15
O sol nas bancas de revista fez do verão uma notícia e um modismo. Águas mornas, pôr do sol sob aplausos, conexão wi-fi nas barracas de praia, quitutes sazonais, sorvetes e cervejas artesanais fazem parte do ritual de calor e dor na cidade que em breve comemora 450 anos podendo se envergonhar de um recorde em seu longo processo de gentrificação. Nunca, em tão curto espaço de tempo, tantos de nós fomos expulsos de nossos ambientes em prol do estrangeiro.
Tédio e submissão no livro de Houellebecq
Carla Rodrigues
19.01.15
Soumission é o livro com o qual Michel Houellebecq obteve os mais longos 15 minutos de fama de sua carreira, por estar na capa da edição da Charlie Hebdo no período do atentado. É injusto reduzir o romance a uma islamofobia, porque Soumission é muito pior que isso.
Uma senhora pornográfica, e por que não?
Carla Rodrigues
07.01.15
Ao incorporar a pornografia à sua obra, Hilst captura a crítica numa armadilha. Teóricos se veem obrigados a dividir sua obra em duas partes, a pornográfica e a não-pornográfica, e dar a Hilst a mesma fama da pornografia: maldita. De autora sofisticada e não lida, Hilst se faz leitura obrigatória quando o erotismo invade sua escrita.
O (cis)gênero não existe
Carla Rodrigues
10.12.14
Ao longo da semana passada, denunciou-se a pichação dos banheiros femininos com slogans violentos de protesto contra a frequência de transgêneros. Para se afirmar como movimento político, o feminismo sempre se afirmou plural, por isso considero necessária uma crítica contundente às feministas radicais e seus fundamentos biológicos.
Garotas, substantivo plural
Carla Rodrigues
26.11.14
Lena Dunham, atriz e roteirista do seriado Girls, problematiza no sexo tudo o que significa para uma mulher não atender à expectativa forjada em moldes impossíveis de alcançar, incluindo seus problemas com a balança. Desde o título de seu livro lançado agora no Brasil, Não sou uma dessas, ela afirma: não sou aquilo que querem que eu seja.