Notícias de um ano particular
José Geraldo Couto
22.12.17
Do ponto de vista do público, não foi um ano dos mais memoráveis para o cinema. Não disponho dos dados, e muito menos da competência, para analisar tendências de mercado. Por isso, nesta última coluna do ano, vou me limitar a comentar alguns fenômenos que me chamaram a atenção e a destacar alguns filmes marcantes.
Escória rebelde
José Geraldo Couto
15.12.17
Nada como um blockbuster de primeira linha (e de primeira hora, se pensarmos na origem da série) para terminar um ano que não foi lá dos mais animadores em matéria de cinema. Estou falando, é claro, de Os últimos jedi, o mais novo episódio da saga Star Wars. É o oitavo exemplar da série, e um dos melhores.
A transparência do sonho
José Geraldo Couto
08.12.17
Um clássico é uma obra que continua viva ao longo do tempo, e que é recebida de uma maneira diferente a cada geração. É o caso de A bela da tarde (1967), de Luis Buñuel, que volta aos cinemas do país em cópia restaurada meio século depois da estreia. É provável que seu impacto hoje seja bem diferente.
Cinema de corpo e alma
José Geraldo Couto
01.12.17
Em destaque, dois novos filmes brasileiros – Lamparina da aurora, de Frederico Machado, uma imersão sem freios no estranho universo poético do diretor, e Antes o tempo não acabava, de Sérgio Andrade e Fábio Baldo, realizado em Manaus e centrado na trajetória de um jovem índio aculturado – e a mostra do francês Jean-Pierre Melville no IMS.
Rio de sangue
José Geraldo Couto
24.11.17
Não devore meu coração, de Felipe Bragança, é um filme desconcertante. Sua originalidade começa na ambientação geográfica e se estende ao roteiro e à construção formal. É faroeste, filme de gangue de moto, romance de formação, fábula política, história de amor, alegoria histórica, tudo misturado. Outro filme belo e estranho, mas numa direção diferente, é o português Colo, de Teresa Villaverde. Os assuntos são deprimentes, mas o frescor e o vigor com que a diretora os plasma em cinema são animadores.
A política do corpo
José Geraldo Couto
17.11.17
No momento em que o Congresso brasileiro ameaça criminalizar todas as formas de aborto, inclusive em casos de estupro ou de ameaça à vida da gestante, poucos filmes serão tão atuais e pertinentes quanto Invisível, do argentino Pablo Giorgelli. Mas não é só por isso que ele merece ser visto.
O inferno é aqui
José Geraldo Couto
10.11.17
Passemos ao largo do fogo cerrado a que Vazante, de Daniela Thomas, foi submetido no último Festival de Brasília. Algumas acusações lançadas ali são tão descabidas que não mereceriam comentário. O problema é que as chagas da nossa formação como país são tão profundas que qualquer filme será insuficiente para aplacar as dores acumuladas ao longo dos séculos. Talvez algumas cobranças, por mais legítimas que sejam, só pudessem ser satisfeitas por uma obra programática, que mostrasse negros heroicos e virtuosos batendo-se contra o dragão da maldade do poder branco. Mas uma tal obra teria escassa eficácia política, esgotando-se na catarse, e valor estético nulo.
O futuro é mulher
José Geraldo Couto
30.10.17
A moça do calendário, de Helena Ignez, é um dos filmes mais vigorosos da Mostra de Cinema de SP. O protagonista é o “mecânico e dublê de dançarino” Inácio. Tudo acontece em torno de suas relações com a mulher, com os colegas de trabalho, com o dono da oficina, com seus “bicos” como ator, com o sonho de encontrar a tentadora “moça do calendário.
O horror do Brasil
José Geraldo Couto
27.10.17
As boas maneiras, ganhador do prêmio especial do júri no festival de Locarno, surge como um dos longas mais aguardados da 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Dirigido pelos jovens brasileiros Marco Dutra e Juliana Rojas, o filme atualiza o mito do lobisomem e consegue o prodígio de enfrentar o terror sem perder de vista o amor e o humor. Como dizia Hitchcock, o problema não é o clichê, mas sim partir de uma ideia original e desembocar num clichê. As boas maneiras, assim como os filmes do mestre do suspense, faz justo o contrário: parte do clichê para algo original. José Geraldo Couto comenta esta e outras boas atrações da Mostra.
Kafka no chaco
José Geraldo Couto
23.10.17
Um dos filmes mais originais e intrigantes da 41ª Mostra de Cinema de São Paulo é certamente Zama, coprodução multinacional dirigida pela argentina Lucrecia Martel. O filme é ambientado na região pantanosa onde hoje é o Paraguai pouco antes das guerras de independência contra a Espanha. Mais que um “romance histórico”, trata-se de um antiépico, em que toda a agitação, todo o movimento, parece não levar a parte alguma, numa atmosfera estagnada e angustiante.