Ame-o ou deixe-o
Bernardo Carvalho
01.07.14
Participando de um festival literário na Bretanha, vi que, para os franceses, parece inadmissível um brasileiro não amar o Brasil, o que não deixa de ser uma forma de paternalismo. Um escritor, indignado comigo, associava o país a uma namorada. Pelo menos, foi divertidíssimo o diálogo entre o quadrinista autor de O árabe do futuro e o ex-correspondente do Libération no Oriente Médio.
A Rose, muito obrigada
Carla Rodrigues
25.06.14
Com mais direitos que suas antecessoras, nova geração de mulheres nem sempre dá os devidos créditos à luta feminista que lhe garantiu condições hoje vistas como naturais. Rose Marie Muraro, intelectual morta na semana passada, deu contribuições fundamentais ao aproximar do leitor brasileiro Betty Friedan e outras teóricas e, ainda, escrever obras que relacionavam as opressões de gênero e classe.
Os mortos-vivos
Bernardo Carvalho
17.06.14
A arte contemporânea reitera o que o espectador já sabe ou já viu, e passa a ser uma arte da explicação e do reconhecimento, escreve Bernardo Carvalho. O espectador a entende e a acha original na medida em que a reconhece como uma ilustração mais ou menos engenhosa dos discursos que circulam no mundo. A pintura figurativa de Michaël Borremans, ao contrário, não diz, não ilustra nem explica nada. É o mundo que morre e renasce com ela.
Até que enfim não vai ter Copa
Carla Rodrigues
11.06.14
Com #nãovaitercopa, a história que nos impuseram na memória sobre a Copa de 1970 pode enfim começar a ser desconstruída. Se naquela época a exceção era política, hoje ela é econômica, promovida pela Fifa e ditada pelos interesses do capitalismo global, que estabelecem as novas regras do silêncio.
Confissões de um autor paranoico
Bernardo Carvalho
11.06.14
A peça fala de um mundo em decomposição, estrangulado entre a crise financeira e a ascensão da extrema direita. Estreou em Bruxelas poucos dias após o atentado ao museu judaico da cidade e das eleiçõs europeias que fortaleceram a Frente Nacional, de Marine Le Pen. O autor está desconfiado de tudo, até dos aplausos.
A crise das jornalistas
Carla Rodrigues
22.05.14
As editoras-chefe de dois grandes jornais do mundo, The New York Times e Le Monde, foram demitidas carregando a pecha de serem autoritárias, como se copiassem um modelo masculino de comandar. Mas há quem aponte sexismo das empresas ao afastá-las. Para Carla Rodrigues, no novo espírito do capitalismo, existe mais espaço para as mulheres por elas serem aquelas que ganham menos, trabalham mais e tiveram que se adaptar a vínculos flexíveis para dar conta da dupla jornada empresa/maternidade.
Em Girls: a voz e o vazio da geração perdida
Carla Rodrigues
22.03.13
No seriado de grande sucesso escrito, dirigido e estrelado pela jovem Lena Dunham - cuja segunda temporada se encerra no Brasil no domingo, na HBO - não há lugar para romantismos adocicados nem para narrativas de felicidade. Ele é duro, seco, rude. Um Sex and the city sem Cosmopolitan e glamour, ainda que as personagens das duas séries tenham similaridades. As quatro meninas de Girls estão envolvidas em arte de algum modo, não querem se render a um emprego apenas para sobreviver e fazem sexo sem charme, pudor ou ilusões.
Fim
Bernardo Carvalho
27.02.12
No recente The Angel Esmeralda, que reúne os contos de Don DeLillo publicados entre 1979 e 2011, há uma história, de 2002, inspirada na série de quinze quadros em preto e branco que Gerhard Richter pintou sobre o chamado "Outono Alemão" -- a escalada de atos terroristas que desencadeou, em 1977, uma crise sem precedentes na Alemanha do pós-guerra. A série intitula-se 18 de Outubro de 1977 e se refere à data na qual três membros da Facção do Exército Vermelho foram encontrados mortos em suas celas, na prisão de segurança máxima de Stammheim, em Stuttgart, onde cumpriam pena.
Sons inexistentes
Bernardo Carvalho
22.02.12
Todo mundo que eu conheço gostou de O artista. O que torna tanto mais difícil e constrangedor explicar para todo mundo por que acho O artista um lixo. Tem a ver com o que eu chamo de falta de autoria, que é um argumento subjetivo e em grande parte duvidoso, eu concordo, porque também não é de toda autoria que eu gosto. Não gosto, por exemplo, dos filmes de Zhang Yimou, que têm um estilo tão imediatamente reconhecível quanto os livros do Paulo Coelho ou de Danielle Steel, à sua maneira. O artista não tem autoria. E isso tampouco quer dizer que ele seja mais ou menos comercial, mais ou menos holywoodiano.
A neve é um casaco esplêndido e quente
Bernardo Carvalho
06.02.12
A cidade está coberta de neve, oito graus negativos. Começo a ler o pequeno volume, recém-publicado em inglês, com as "Histórias de Berlim", de Robert Walser (tradução de Susan Bernofsky, ed. New York Review Books). O escritor suíço viveu aqui entre 1907 e 1913.
