Robert Wilson no IMS-RJ – Diário de montagem

Artes

24.02.11

Por Priscila Sacchettin,  assistente de curadoria do IMS

Quinta-feira, 10 de fevereiro

Cheguei ao Rio, vinda de São Paulo, ao meio-dia. Almocei no hotel e fui para o IMS. Queria chegar antes do Matthew para ter tempo de ler e responder meus e-mails. Havia ainda alguns layouts para aprovar, e eu queria organizar esse material antes de mostrá-lo ao Matthew.

Como combinado, Matthew chegou ao Instituto por volta das 15h00. Vindo de Nova York, estava feliz com o calor que fazia no Rio: “I love this!’. Disse pra ele “We have lots of work to do” e ouvi “That’s why I’m here for”. Nada melhor que um curador bem-disposto. Enquanto eu terminava meus e-mails, Matt foi dar uma volta pela casa, para reavivar a memória e conferir detalhes dos quais não se lembrava.

Depois disso, propus que fizéssemos o que chamo de Trouble Tour: percorremos todas as salas destinadas à exposição junto com a equipe de montagem, com o objetivo de avaliar o espaço e fazer o levantamento de tudo o que está pendente ou que pode ser um problema durante os próximos dias.

A maior dificuldade a ser resolvida era a capacidade das paredes falsas de suportarem o peso das telas. Estas pesam cerca de 100kg, e algumas paredes falsas feitas de mdf poderiam não agüentar. Era preciso fazer reforços nessas paredes, pois senão desfalcaríamos metade da lista de obras.

Luiz Fernando me diz “Priscila, aqui temos que colocar um sarrafo”. Passo isso pro curador, mas como é que eu digo sarrafo em inglês?!

Nessa mediação entre curador estrangeiro e equipe local nas questões práticas, tive que me familiarizar com um novo tipo de vocabulário em inglês: como dizer parafuso, porca, sarrafo, bucha, broca de furadeira…

O outro americano, Chris, chegaria nesta manhã também, mas o vôo dele foi cancelado por causa do péssimo tempo em Chicago, de onde ele partia. Por isso tive que rearranjar o taxista que iria buscá-lo no aeroporto.

Abertura das caixas onde estão as obras. Por contrato, Matthew deveria estar presente e alguém da equipe do IMS também, para fazer os laudos. Essa parte é muito importante, porque atesta que qualquer eventual dano nas obras ocorreu antes que elas estivessem no Instituto. Duas das dezenove telas transportadas estavam quebradas, mas tudo bem. Elas se quebraram bem antes de chegarem ao Rio – essas caixas viajam o mundo inteiro. A visão dessas caixas, espalhadas pelo corredor em penumbra, foi algo inesperado. Pareciam sarcófagos, porém ao inverso: o que está ali dentro não morreu, somente espera para retornar à vida.

Outra tarefa: providenciar para que Matt envie ainda hoje e o mais rápido possível as respostas para um jornal de grande circulação em São Paulo – se essas respostas não chegarem à nossa assessoria de imprensa até o fim deste expediente, tchau matéria. Agora Matt está lá na mesa, todo compenetrado, parece escrever um tratado. Detenho comigo toda solicitação ou dúvida da equipe que iria para ele, porque não quero interrompê-lo – nunca se sabe quando ele voltaria a escrever, ou se voltaria. Portanto, blindagem no curador até ele terminar.

No meio disso tudo, me pergunto se escolhi certo o vestido que trouxe para usar na abertura.

Sexta-feira, 11 de fevereiro

Chris e Noah chegam no Rio e seguem direto pro Instituto, acho que ficaram preocupados com os reforços nas paredes. Poderia significar alterações no projeto da curadoria, exclusão de obras importantes.

Chris é super rápido, já vai fixando os suportes nas paredes boas – quando dou por mim, vupt, já tem suporte na parede!

Sábado, 12 de fevereiro

Mais um item na minha lista de pendências: blu-ray player. O blu-ray alugado para a exibição do documentário não aceita programação, e precisamos disso. Como o disco não está em loop, sem uma programação teríamos que ter alguém ali só para apertar o play de meia em meia hora.

Aniversário do Matthew! Ele não falou nada, fiquei sabendo só no fim da tarde, Chris me disse. Dou um abraço no Matt e falo em português mesmo: “Muita saúde, alegria, paz e dinheiro no bolso!” Acho que ele entendeu.

Os americanos querem comemorar num restaurante japonês, comendo sushi. Ok, vamos lá. Durante o jantar, Noah me conta que estudou filosofia, e Chris me diz que parentes dele fundaram uma cidade nos Estados Unidos depois que imigraram pra lá, há muito tempo.

Segunda-feira, 14 de fevereiro

Véspera de abertura, sempre sufoco!

Hoje chegam os textos de parede, etapa fundamental da montagem, que exige calma e concentração. Trabalhar com esses textos às pressas é encrenca na certa. Quando o assunto é fixação de texto de parede, o ditado que diz É melhor prevenir do que remediar vale como nunca.

No início do dia, organizo minha lista de pendências que devo coordenar junto à equipe:

retirar spots da pequena galeria

pintar canaletas

esconder fios

conferir legendas/créditos/serviço/correções nos textos de parede

foam board branco na lateral das telas

testar novo blu-ray

agendar taxista para levar os americanos ao aeroporto na quarta

fechar brisés do corredor.

No meu pra lá e pra cá nos corredores ao longo do dia, tenho que me acostumar com Brad Pitt me apontando uma arma.

Terça-feira, 15 de fevereiro

Abertura à noite, frio na barriga!

O dia é dedicado às finalizações.

É preciso também fazer os testes para a abertura: testar a projeção do documentário no auditório, depois a transição para a projeção do Video Portrait da Winona Ryder; confirmar se está tudo ok para a fala do Rodrigo Naves.

De finalização em finalização o tempo passa e já são 19h30, ainda nem me arrumei pra abertura, que começa às 20h.

Tomo banho e me troco no Instituto mesmo, sem voltar pro hotel, tudo correndo.

Recebo um sms do Matthew, dizendo que está no táxi, preso no trânsito, vai atrasar um pouco. Ok.

A exposição está linda, muita gente na abertura! À noite, com as luzes apagadas, as obras ganham força. Me sinto feliz e um pouco cansada.

Chris também pegou trânsito, chega meio esbaforido: “I like your dress!”. Logo depois Matt chega também: “Congratulations for your work. Nice dress!”.

Agora sim, missão cumprida.

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