Provocações aos sentidos e à inteligência
José Geraldo Couto
26.10.18
José Geraldo Couto segue elegendo destaques na programação da 42a Mostra de Cinema de SP: Imagem e palavra, novo filme de Godard, não é documentário nem ficção, mas um ensaio poético-filosófico de riqueza inesgotável; Rio da Dúvida, do brasileiro Joel Pizzini, é uma esplêndida recriação de uma aventura insólita; A imagem que você perdeu, do irlandês-americano Donal Foreman, é um resgate da relação do diretor com o pai distante e uma reflexão ilustrada sobre três décadas da história da Irlanda; e Amor até as cinzas, de Jia Zhang-ke, é uma observação aguda das transformações ocorridas na China nas últimas décadas.
Pesadelos contemporâneos
José Geraldo Couto
13.04.18
Não é toda semana que entram em cartaz novos filmes de três grandes autores em plena forma, como está acontecendo bem agora, com Roman Polanski (Baseado em fatos reais), Hong Sang-soo (O dia depois) e Kiyoshi Kurosawa (Antes que tudo desapareça). Cada um com sua poética pessoal e intransferível, eles ajudam a iluminar o desconcerto do indivíduo dentro de um mundo enlouquecido e esfacelado.
A mulher no labirinto
José Geraldo Couto
29.03.18
Afinal, o que quer uma mulher? A pergunta, que tem desconcertado tantos homens sabidos, de Sigmund Freud a Caetano Veloso, às vezes recebe uma resposta enganosamente simples: amor. Pois essa resposta leva a outra pergunta, ainda mais complexa: e o amor, o que é? Por esse labirinto de interrogações que geram outras interrogações trafega o novo filme da francesa Claire Denis, Deixe a luz do sol entrar.
O mundo em duas horas
José Geraldo Couto
09.02.18
Três anúncios para um crime, de Martin McDonagh, é uma improvável mistura de comédia cruel de erros com parábola cristã de culpa e redenção, que oferece uma satisfação imediata e descartável. Acossado (foto), por sua vez, é toda uma outra conversa. Com quase seis décadas, o primeiro longa-metragem de Jean-Luc Godard, relançado agora nas telas brasileiras em cópia restaurada, mantém intactos encanto e frescor. É um dos três ou quatro filmes que qualquer pessoa civilizada precisa ver pelo menos uma vez na vida.
Irmã das coisas fugidias
José Geraldo Couto
26.01.18
O cinema, entre muitas outras coisas, é uma arte do encontro. A prova definitiva disso, se é que faltava uma, é o adorável documentário Visages villages, de Agnès Varda e JR, em cartaz no IMS Paulista e no IMS Rio. Não só pela parceria improvável de seus realizadores e protagonistas – uma cineasta de quase 90 anos e um fotógrafo e muralista de 34 –, mas também por seu tema e seu método de construção.
Crônica contra as mortes anunciadas
José Geraldo Couto
08.01.18
Contra o costume desta época de férias, em que geralmente os blockbusters infanto-juvenis alijam do circuito exibidor os bons filmes para adultos, o ano começa muito bem para os cinéfilos brasileiros. Entre os filmes já em cartaz e outros que entram esta semana, as opções são muitas: The square, 120 batimentos por minuto, Roda gigante, O pacto de Adriana, O jovem Karl Marx...
Cinema de corpo e alma
José Geraldo Couto
01.12.17
Em destaque, dois novos filmes brasileiros – Lamparina da aurora, de Frederico Machado, uma imersão sem freios no estranho universo poético do diretor, e Antes o tempo não acabava, de Sérgio Andrade e Fábio Baldo, realizado em Manaus e centrado na trajetória de um jovem índio aculturado – e a mostra do francês Jean-Pierre Melville no IMS.
Cinema sem arestas
José Geraldo Couto
30.06.17
Talvez não seja casual que, a certa altura de Uma família de dois, de Hugo Gélin, se faça referência a Eddie Murphy. Omar Sy está hoje para o cinema comercial francês como o comediante norte-americano estava para Hollywood nos anos 1980: é o astro negro oficial, escalado para dar aos filmes um verniz de simpatia e correção política e, no fim das contas, ajudar a mascarar ou edulcorar tensões raciais mais incômodas e verdadeiras.
Os fundos falsos da guerra
José Geraldo Couto
14.06.17
Entre os filmes franceses da nova safra exibidos no Festival Varilux, um dos mais interessantes é sem dúvida Frantz, de François Ozon. Ser um drama de época não tira nem um pouco de sua atualidade, muito pelo contrário: ao evocar a animosidade da atmosfera europeia logo após a Primeira Guerra, coloca em relevo temas urgentes como o nacionalismo, a xenofobia, a dificuldade de entender e conviver com o “outro”.
A revolução dos bichos
José Geraldo Couto
09.06.17
Animal político, primeiro longa-metragem do premiado cineasta pernambucano Tião, é um filme brasileiro dos mais surpreendentes e originais. Uma coisa é certa: depois de assistir a esse filme você nunca mais verá com os mesmos olhos uma vaca – e, aliás, nem os seres humanos.