Arthur Dapieve

O futebol como recreio

Arthur Dapieve

01.11.11

Aos quatro ou cinco anos de idade, eu não tinha a menor ideia de que, naqueles tempos, o time representado por aquela bandeira era o bicampeão da cidade, graças a um timaço com Jairzinho, Gerson, Paulo César, Roberto, Rogério, Zequinha... Nem, muito menos, que pouco antes o Botafogo tinha tido outro timaço bicampeão carioca, com Garrincha, Nilton Santos, Didi, Amarildo, Quarentinha, Zagalo... Ou seja: eu comprei a bandeira com a Estrela Solitária e ganhei de brinde a história gloriosa - e muito sofrimento pelos vinte e um anos seguintes, até o Maurício jogar bola e Leonardo gol adentro, em 1989.

Valium 10, o futebol

Aldir Blanc

27.10.11

Bom, vamos ao meu valium 10 (menos quando joga o Vasco), o futebol. Sou um torcedor heterodoxo, supercrítico. Meu pai me levou desde pequeno ao Maracanã. Comprou uma bandeirinha do Vasco pra mim. Era minúscula, em formato de flâmula. Embora as arquibancadas fossem em degraus, toda vez que eu ameaçava levantar a bandeira, ele cortava: - Abaixa isso pra não atrapalhar a visão de quem está atrás. Pra que dar uma bandeira a um garoto se ele não pode balançá-la?

A Tijuca Profunda

Aldir Blanc

06.10.11

O tijucano - e sou um deles - me horroriza e fascina. É um falso machão. Entra em casa, com umas cervejas na cabeça, e grita, dá decisão, mas se a patroa encarar, a maioria bota o galho dentro. Reina, coçando acintosamente o que a Liesa chama de genitália, na frente do buteco, carta marra na purrinha, mexe com as gostosonas (sem falsa modéstia, são muitas) que passeiam. Umas ficam indiferentes; poucas bancam as vaconautas, olham pra trás e sorriem. Agora, se uma delas parar, de mãos nas cadeiras, e chamar "Vem cá, meu gato, que a mamãe resolve esse atraso todo!", o cara corre feito o Usain Bolt.

Observações de um outsider

José Geraldo Couto

15.09.11

Muitas das pessoas de outras áreas com que me relaciono - escritores, cineastas, músicos, scholars, outros jornalistas - se espantam quando digo que escrevo também sobre futebol, como se este fosse incompatível com as artes e com o intelecto de um modo geral. Chegam a me olhar com certa condescendência, como quem perdoa um pequeno vício de uma pessoa a quem se preza. (...) A gente não precisa se desculpar um com o outro para dizer que Zidane é um artista, que Garrincha é um poeta, ou que Pelé escreveu com os pés um épico digno de Tolstoi.

Meio de campo

Sérgio Sant'Anna

12.09.11

E o Gerson? O que dizer de seus passes longos, como aquele passe para Pelé matar a bola no peito, deixar cair e fulminar o goleiro da Tchecoslováquia no segundo gol do Brasil na Copa de 70? Poderia falar de tantos outros, até nos que só vi jogar quando criança, como Zizinho e Jair da Rosa Pinto. Enfim, os artistas da bola, hoje tão difíceis de se ver e vou incluir também um estrangeiro que me encantava, Zinedine Zidane. E confesso que sempre me orgulhei de ser amigo de um deles, meio-campista, Afonsinho, irretocável na sua categoria, nos seus passes e também no carregar a bola, e ainda como pessoa humana.

Luxo para todos

José Geraldo Couto

19.08.11

Devo confessar, porém, que vou pouco ao teatro. Não chego a ser da turma do "Vá ao teatro, mas não me convide", mas quase sempre acabo optando pelo cinema na hora de sair de casa. No cinema, se o filme for aborrecido, a gente pode cochilar ou sair no meio sem criar constrangimento. No teatro, somos frequentemente acometidos pela "vergonha alheia", quando não pelo ímpeto de subir ao palco e esganar certos atores, ou pedir a cabeça do diretor.

Os caminhos da liberdade

Sérgio Sant'Anna

01.08.11

E vou fazer uma confissão. Quando fui demitido da Petrobras por subversão, logo após o Golpe de 64, houve um lado meu que se sentiu aliviado. Como não fui preso ou sofri violências físicas, pensei: agora, quem sabe, vou poder escrever. E, de fato, tendo o meu pai amigos influentes, consegui um emprego na Justiça do Trabalho, de meio horário, tudo o que um aspirante a escritor poderia pedir.

De Fidel a Neymar

José Geraldo Couto

28.07.11

Que maravilha essa sua história com o Fidel Castro, não só o encontro em Havana, mas também o destino da foto do "grande comandante". Acho que esse episódio sintetiza todo um processo, o do entusiasmo e posterior desencanto da sua geração e da minha (que, afinal, talvez sejam a mesma) com Fidel, Cuba, o comunismo, o marxismo.

A literatura e o indizível

José Geraldo Couto

14.07.11

Estou pensando em Graciliano Ramos e seu Fabiano, de Vidas secas. Ou em Clarice e sua Macabéa, em Guimarães Rosa e seu Riobaldo, em J. M. Coetzee e seu Michael K. Veja que são autores muito diversos entre si, mas que tentam de um modo quase desesperado uma ponte de linguagem com esse outro afásico, impenetrável. Você de certo modo fez isso num conto como "Um discurso sobre o método", não é verdade?

O Fluminense e meu tio

Sérgio Sant'Anna

27.06.11

Leia abaixo a primeira carta da correspondência entre o escritor Sérgio Sant'Anna e o jornalista e crítico José Geraldo Couto. Pelos próximos dois meses, ambos trocarão cartas semanais no blog do IMS. "E vou contar a você o que pouca gente sabe a meu respeito. Nos dias em que o meu time está passando por momentos difíceis em jogos importantes, invoco o meu tio Carlos, para que dê uma mãozinha, esteja onde estiver, o que significa que eu pelo menos admito que há vida depois da morte."