

O real é o que resta
Renato Galeno
16.10.18
Quando a ficção científica, como a obra de Philip K. Dick, é mais real que o presente: o “processo civilizador” descrito por Norbert Elias – a crescente autocontenção da parte animalesca do ser humano – parece ter esbarrado no muro dos grupos de WhatsApp. A crença em “verdades” não fundamentadas possibilita a normalização da violência.


A bandeira da Síria em seu perfil
Paulo Raviere
05.04.18
O problema não é postar o sentimento solidário, mas transmitir essa compaixão com superioridade, fiscalizar o luto dos outros, conceder cliques como quem assina manifestos. Algumas causas são mais urgentes que outras, mas a irrelevância dos resmungos é equiparável.

Feminismo radical, justiças históricas e injustiças particulares
Carla Rodrigues
21.11.17
Não me parece coincidência que a corrente das feministas radicais esteja fazendo tanto barulho no Brasil desde 2013, principalmente nas redes sociais. Até então, tínhamos uma tradição de associar movimentos feministas com lutas progressistas por justiça social, em que pese as valiosas críticas do predomínio do feminismo liberal branco entre nós. Hoje enfrentamos uma onda neoconservadora contra a liberdade, fundamentada na articulação entre leis e mercado, num estado securitário e autoritário e no pânico moral muitas vezes mobilizado pelas radfems.


Declínio e queda do esprit d’escalier
Paulo Raviere
09.11.17
No Zeitgeist de uma era marcada por elevadores e conexão ilimitada não existe espaço para o esprit d’escalier. Assim como nos é possível enviar a resposta a qualquer hora do dia, podemos adiá-la conforme nossa conveniência. E tendo sido burilada com tanto esmero, ninguém guarda para si a sentença ferina. Quando alguém percebe que disse uma besteira, sua reação seria se envergonhar, certo? Não quando encontra quem a endosse.

O meme, o soneto e o escorbuto
Victor Heringer
19.07.17
Victor Heringer mergulha na genealogia dos memes de internet para refletir sobre a relevância da poesia na sociedade contemporânea e descobre quem tomou o lugar de sonetos, trovas, rondós e cantigas.

Saturação nossa de cada dia
Carla Rodrigues
19.06.17
É como uma cor muito saturada e, por isso, quase ofuscante, que tenho passado os dias, as semanas e talvez os meses, cansada e repleta de estímulos que, por excessivos, já não me dizem mais nada.

Todo mundo mente
Carla Rodrigues
19.12.16
Na experiência cotidiana, estamos todos diante da impossibilidade de distinção entre verdades e mentiras – da timeline do Facebook ao noticiário, dos discursos dos políticos aos programas dos candidatos, da publicidade aos grandes juristas, do plebiscito inglês que promoveu o Brexit ao futuro presidente dos EUA, Donald Trump, do Congresso ao STF, numa lista infinita de exemplos que 2016 não nos deixará esquecer tão cedo.

Margem de imprecisão
Bernardo Carvalho
17.08.16
Toda a obra de Velázquez é, como mostra Ortega y Gasset, um movimento discreto no qual a pintura deixa de ser representação da beleza para "se fazer substância", para se apresentar afinal como pintura ("pintura enquanto pintura"), condição da modernidade. Esse comedimento reflexivo, entretanto, se tornou estranho entre nós. Quem entende o valor da discrição hoje?

Desafios de pensar sobre as obrigações da maternidade
Carla Rodrigues
18.02.16
Poucas, muito poucas mães admitem – para si mesmas ou para a sociedade – as dificuldades que vivem. E as corajosas o suficiente para fazê-lo são linchadas, como aconteceu com a dona de casa Juliana Reis, cujo perfil no Facebook foi bloqueado depois de afirmar que “detestava ser mãe”.

Precisamos falar sobre imagens
Laura Erber
15.12.14
A cena de um grupo de jovens de costas para quadro de Rembrandt viralizou recentemente. Compartilhá-la significava compartilhar também a ideia de que certo mundo perceptivo teria chegado ao fim. Mas a foto mostra que a pintura sempre retorna para assombrar a imagem digital. E é emblemática de um problema atual: como chegar a fazer com que uma imagem seja realmente vista em meio à algazarra do que é visível hoje?