Carla Rodrigues

Compra-se um novo passado

Carla Rodrigues

28.09.18

É justamente por não ser apenas uma edificação histórica que a perda do Museu Nacional é uma tragédia. Ali estava em jogo nosso passado anterior à colonização e uma chance ínfima de construção de outro futuro, não assegurado ainda a quem não tem passado.

Molière, o corpo do figurino

Carolina Casarin

15.08.18

Moliére, uma comédia musical, dirigida por Diego Fortes, é a primeira encenação no Brasil do texto da mexicana Sabina Berman. Na produção do grupo Teatro Promíscuo chama a atenção o figurino assinado por Karlla Girotto, corroborando o tom cômico que atravessa o espetáculo e evidenciando como as roupas não apenas representam nossas personalidades, mas participam ativamente da constituição do que somos.

Mensagens criptografadas

Karina Kuschnir & Vinícius Moraes de Azevedo

07.08.18

As pichações põem à prova a nossa miopia urbana. Onde vemos borrões, jovens veem marcas nítidas da passagem de pessoas, identidades e bairros. Os rabiscos que cobrem a cidade são nomes com rosto e reputação. São uma linguagem com sensibilidade e valores próprios que delimitam espaços e marcam fronteiras.

Escravidão sem fim

José Geraldo Couto

29.06.18

Dois filmes em cartaz, um de ficção (O nó do diabo) e um documentário (Auto de resistência), investigam com brio e vigor a infâmia histórica da escravidão no Brasil e seu legado de segregação e violência nos dias de hoje. São obras complementares, entre as quais se percebe uma incômoda continuidade.

Desdesenhando o Rio

Karina Kuschnir

05.06.18

A antropóloga Karina Kuschnir apresenta os Urban Sketchers, gigantesca rede mundial formada por pessoas que amam desenhar as cidades. Apesar da paixão pela arte, ela conta que não conseguiu se transformar numa urban sketcher carioca. “O Rio não merece os desenhos que gera”.

2018 e suas memórias

Carla Rodrigues

16.05.18

Recebi um convite para uma reunião da turma da escola, 40 anos de conclusão do segundo grau. Penso nesses 40 anos quando vejo em torno de mim todas as homenagens aos 50 anos de Maio de 1968, seu espírito revolucionário, suas promessas de futuro que ainda estão aí, ora nos assombrando como fantasmas, ora nos animando a ir às ruas de novo e mais uma vez. Há debates, livros, seminários, e há sobretudo o fato de que, se na França ou na Alemanha 1968 é um marco em direção a um novo futuro, no Brasil é o ano do assassinato, pela polícia, do estudante Edson Luís, da Passeata dos Cem Mil e da decretação do AI-5.

Tirolesa

Sérgio Rodrigues

20.03.18

Primeira vista traz textos de ficção inéditos, escritos a partir de fotografias selecionadas no acervo do Instituto Moreira Salles. O autor escreve sem ter informação nenhuma sobre a imagem, contando apenas com o estímulo visual. Neste mês Sérgio Rodrigues foi convidado a escrever sobre uma foto de José Medeiros, tirada no Rio de Janeiro por volta de 1950.

A guerra no Rio que tem rosto de mulher

Carla Rodrigues

07.03.18

Contrariando o que escreveu a russa Svetlana Aleksiévitch, autora de A guerra não tem rosto de mulher, há no Rio de Janeiro uma guerra muito específica que tem o rosto das mulheres que recorreram ao serviço de saúde em situação de abortamento e acabaram presas. Se por um lado tivemos um governador capaz de afirmar que as mulheres pobres eram “fábrica de marginais”, por outro temos essas mesmas mulheres pobres, já constrangidas pela situação precária em que vivem, sendo denunciadas e presas quando recorrem, em situação de extrema vulnerabilidade física e emocional, à rede pública de saúde.

O estatuto dos favelados cariocas

Carla Rodrigues

19.02.18

O Rio de Janeiro é o cenário perfeito para a construção de um discurso de ordem, aqui entendido como apelo de intervenção e proteção por um Estado forte exatamente onde hoje o governo é mais fraco, para a configuração de um estado de exceção que ganha apoio nas camadas médias como forma de proteção “contra tudo isso que está aí”.

A Rocinha nunca foi só a Rocinha

Carla Rodrigues

26.09.17

Nas muitas camadas que formam a Rocinha, uma chama a atenção: a centralidade atribuída, seja pelos governos, seja pela imprensa, a tudo de bom ou ruim que ali acontece. Do jeep tour que faz da favela um espaço exótico à grande concentração de recursos de ONGs, nada na Rocinha passa desapercebido.