Primeira retrospectiva ampla da obra do fotógrafo realizada fora do Brasil, Marcel Gautherot – Brésil: Tradition, Invention ocupará um espaço importante da Maison Européenne de la Photographie (MEP) a partir de 14 de junho. Francês que morou no Brasil a maior parte da vida, Gautherot (1910-1996) é um nome essencial da história recente da fotografia do país. Trabalhou por aqui com grandes nomes da cultura nacional: Rodrigo Melo Franco de Andrade e Lúcio Costa no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), Edison Carneiro na Comissão Nacional de Folclore, Oscar Niemeyer, para quem fotografou a construção de Brasília, e Roberto Burle Marx, de quem documentou os projetos mais importantes como paisagista.
A mostra cumpre dois objetivos simultâneos: primeiro, reintroduz Marcel Gautherot no círculo cultural e intelectual de Paris, onde nos anos 1930 – como um jovem modernista admirador de Le Corbusier – foi bastante ativo no circuito das artes. Em segundo lugar, apresenta ao público internacional sua obra fotográfica extraordinária, definida no Brasil ao longo de cinco décadas, com destaque para seu papel como fotógrafo predileto do arquiteto Oscar Niemeyer, de modo similar a Lucien Hervé em relação a Le Corbusier ou Julius Shulman em relação ao arquiteto Richard Neutra.
A obra de Gautherot desempenhou um papel crucial na construção da representação e do imaginário modernos do Brasil, tanto no país quanto no exterior. Caracterizada por grande abrangência territorial e regional, diversidade temática e qualidade estética, possui dois eixos centrais – fotografia arquitetônica e fotografia etnográfica. Ambos têm como base a consciência de Gautherot acerca da forma como ferramenta narrativa fundamental para a estruturação minuciosa de amplos projetos documentais de longo prazo. Tal visão também se revela no modo sistemático com que ele organizou seu arquivo fotográfico, com cerca de 21 mil negativos em preto e branco e 2200 folhas de contato, editado de modo a permitir uma leitura nítida e detalhada de toda sua obra – que inclui também cerca de 3 mil slides e negativos em cores.
Esses aspectos da obra de Gautherot não eram de conhecimento público durante sua vida. Em 1999, a família do fotógrafo transferiu sua obra para o Instituto Moreira Salles, que realizou um extenso trabalho de conservação, com ampliações e negativos originais mantidos em condições ambientais adequadas à preservação permanente.
A difusão ampla e sistemática da obra de Gautherot teve início em 2001, com a exposição O Brasil de Marcel Gautherot e a publicação do catálogo da mostra. Os anos seguintes trouxeram diversas outras publicações e mostras, apresentando em detalhes o papel de Gautherot como fotógrafo mais importante da arquitetura moderna no Brasil e sua documentação exaustiva de diversos aspectos do território e da cultura brasileira.
Com grande sensibilidade e uma consciência formal extraordinária, Marcel Gautherot construiu um legado permanente para a cultura brasileira e os laços culturais entre Brasil e França, ampliando também a compreensão da fotografia como linguagem itinerante e internacional na construção da modernidade e da contemporaneidade. Marcel Gautherot – Brésil: Tradition, Invention fica em cartaz até 4 de setembro na conceituada Maison Européenne de la Photographie.