A partir de dezembro o Instituto Moreira Salles conta com um novo coordenador de cinema. O cargo, anteriormente ocupado pelo crítico José Carlos Avellar, que morreu em março deste ano, está agora nas mãos do cineasta e crítico pernambucano Kleber Mendonça Filho, diretor dos premiados O som ao redor e Aquarius.
Kleber, que será responsável pela programação das salas de cinema do IMS no Rio de Janeiro e em São Paulo (na nova unidade da Avenida Paulista, a partir de julho de 2017), e pelos lançamentos da coleção de DVDs do instituto, tem uma longa e elogiada trajetória: de 1998 até outubro de 2016 trabalhou na Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, como coordenador de cinema, área reconhecida pela qualidade de sua curadoria e salas. “Procuramos a experiência extraordinária do Kleber. É impressionante o quanto ele entende e gosta da sala de cinema, do local em si enquanto fonte de encantamento”, observa Flávio Pinheiro, superintendente executivo do IMS.
Para Kleber, que vai permanecer em Recife, além de ser um desafio “muito grande e muito apetitoso” – “O novo prédio do IMS está em uma área forte, algumas das melhores salas de cinema de São Paulo estão ao redor, e precisa de uma programação muito especial”, diz – assumir a coordenação de cinema do instituto também é uma oportunidade de honrar o trabalho de Avellar. “Todo mundo que trabalha com cinema no Brasil teve contato com ele e recebeu suas boas influências”, lembra Kleber, que trabalhou como crítico para publicações como o Jornal do Commercio, de Recife, a Folha de S. Paulo e a revista Continente, além de seu próprio site, CinemaScópio.
A cidade de Recife, onde também dirige a Janela Internacional de Cinema, evento que está em sua nona edição, é o cenário dos dois aclamados longa-metragens do cineasta, que se formou em Jornalismo e, desde o início dos anos 2000, já realizou diversos curtas e documentários. Em O som ao redor, de 2013, seu primeiro longa-metragem de ficção, Kleber narra a tensão vivida num bairro de Recife com a chegada de uma milícia, fato que vai mudando a vida dos moradores. A produção conquistou público, crítica e prêmios em festivais no Brasil (Gramado e do Rio) e no exterior (Polônia, Copenhagen e Toronto, entre outros), e foi considerado pelo New York Times um dos dez melhores filmes do ano.
Aquarius, de 2016, que concorreu à Palma de Ouro em Cannes, tem como protagonista Sonia Braga numa interpretação que foi considerada uma das mais brilhantes de sua carreira. Ela é Clara, viúva que luta com todas as forças para manter de pé o último prédio da Avenida Boa Viagem, em Recife, onde mora. O edifício está na mira de uma construtora que quer o terreno para erguer ali um novo empreendimento. O filme ganhou prêmios nos festivais de cinema de Lima, Jerusalém, Sidney, Munique e Mar del Plata, além de conquistar também o troféu da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) de melhor filme e roteiro.