Alguns Dias Violentos é o título do livro que estou terminando de aprontar. Ando preocupado com a ideia de escrever textos cada vez mais consequentes, sem fugir ao plano da experiência imediata, que é onde me sinto mais à vontade. Penso que o fim do mundo é uma espécie de morada, que também ele tem a sua domesticidade, que também ele pode abrir-se para uma cena íntima. Ou então, que a nossa intimidade pode ser apresentada, dentre uma infinidade de coisas, como um mundo em vias de acabar. É este tipo de tensão que me interessa e que busco trabalhar.
Enrique Lihn em Manhattan
O móbil do crime talvez seja a clareza
Saber num abrir e fechar
De olhos que tambor tanger, que episódio desferir
Agora
O que depende disso
Esclarecer-se de um golpe o que está em jogo
A compreensão
Que não se detém para compreender
O patinhar pela gordura
Encerado, oleado
Os traços que podemos apanhar furtivamente de figuras
Apenas entrevistas
À saída do metrô
Enfiada de fantasmas migrados pelo fumo
E demorar-se
Embora não mais que o necessário,
Na qualidade própria do fumo migrador,
Sua proveniência. Aqui
Não é ali
Os poemas vêm dizendo
Vêm silabando
Com voz áspera, maçada, invariante
Abro-lhe minha voz
Cantamos a cica
A acidez, o indigesto
Cantamos as cáries destas crianças
Mal disfarçadas em nações
Projetos de nações