Contra a urucubaca e o escárnio

Correspondência

10.11.11

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Meu querido Dapieve:

Em primeiro lugar, parabéns! Já que Aldo Rebelo aprecia tanto árvores caídas, levou uma bela descascada sua na última carta. Não sei se tive uma ligeira alucinação, coisa da idade, mas será possível que li sobre a “felicidade” de Aldo, na posse, porque também conseguira aprovar o “Dia do Saci”?!? Espero que o Boitatá não deixe isso passar batido…

Minha carta passada recebeu dois tipos de reclamação: um verdadeiro irmão ficou triste porque eu não escrevi o nome de seu time, o Flamengo. Quero esclarecer que não tenho problemas com o Flamengo, mas sim com a canalha que se apropriou da brincadeira Fla-Madri para faturar um troco. Eu sei quanto fui zoado. Talvez alguns não lembrem que o jogo Vasco x Real Madri foi de manhã cedo. O volante Nasa, provando definitivamente para que servem os tais cabeças de área, jogou contra o patrimônio. Ao contrário da zorra que dura cerca de meia hora após um jogo, tiveram o dia inteiro para perturbar. A secretária eletrônica ficou lotada de recados, alguns bem ofensivos. Chegaram a parar um carro, com um poderoso sistema de som, tocando um CD repleto de palavrões cabeludíssimos contra o Vasco, outro bem intencionado “produto” dos cafajestes que sequestraram a Fla-Madri. O tal carro saiu por reclamações de vizinhos que nem eram Vasco. Não sabe do que escapou. Eu estava prestes a jogar um coquetel molotov no teto da geringonça. Não pensem que escrevo isso de brincadeira. Sou temido por algumas reações, digamos, destemperadas.

Reconheço que perdi o controle, na recente Copa do Brasil, com a Flaritiba e berrei coisas dantescas na janela. Arrependo-me disso (levemente). Ainda sobre o Mengão: a cara de Van Luxemba está sempre amarrotada, como se tivesse acabado de acordar ou saído de um porre, seja de manhã, de tarde ou de noite. Ora, ele é um homem reconhecidamente vaidoso. Por que não contrata uma esteticista boazuda para maquiar aquelas fossas amarfanhadas e envolve-se em novo escândalo sexual, para a alegria da galera?

A outra reclamação improcedente foi sobre minha “implicância” com o Vasco, meu time. Que implicância? Empatou em casa com um caído São Paulo, que tomou 4 do Bahia, um time quase na zona de rebaixamento. Perdeu por 2 a 0, no Peru, para um bravo grupo de esmolambados que não recebem há 7 meses e, parece, tiveram dificuldade em arranjar uniformes para disputar a peleja. Com 2 minutos de jogo, o Santos já tinha feito o primeiro gol, obra de nosso baloarte, Dedé. O goleiro Fernando Prass, um atleta leal, que salvou o Vasco inúmeras vezes, deveria receber um adicional alto de insalubridade pelos prováveis danos físicos e psicológicos. Tenho um neto que, desde o rebaixamento, não vê os primeiros 5 minutos de jogos do Vasco, nem os últimos 5. Sempre dá merda, parece uma coisa sobrenatural, macumba de urubu. Li que Rodrigo Caetano, uma espécie de supervisor futebolístico do Vasco, promete um atacante de peso (o Adriano, não, por favor) para a Libertadores. Acho bom contratar mais gente, ou o Vasco vai ser de novo o playground habitual dos rivais, vexames que duram quase 15 anos, com uma ou outra exceção.

Ganhar a Copa do Brasil perdendo, com jogadores experientes de costas para o campo, cabeças cobertas por agasalhos, tipo “não quero nem ver”, é um tanto frustrante. Time com pretensão ao título não é goleado pelo lanterna.

A pergunta que não quer calar é: por que o Vasco da Gama, que tem como presidente um dos maiores artilheiros do clube e do futebol brasileiro, não possui (passaram uns quinze monstrengos por lá), desde antes da queda para a segundona, um goleador de fato? Os bacalhaus – como eu – se zangam quando são tratados como piada de português. É preciso, como está na moda escrever, atitude de vencedor para acabar com a urucubaca e o escárnio. Se o Vasco vencer categoricamente seus adversários, não haverá motivo para zoeira. A verdade é que o Vasco ainda não se recuperou da devastação moral da Já-Era Eurico. Pouco me interessa se houve gol legítimo não marcado ou pênalti no jogo contra o Santos. O time entrou de cabeça baixa, triste, já sabendo o que viria.

Só quero acrescentar uma palavrinha: os que comemoraram tanto o segundo gol do Santos quanto os do Flamengo me aguardem. Pertencem à banda podre assinalada acima, aquela que grita “uh, vai morrer!” quando veem um doente grave entrando em ambulância. Tratem de vencer ou me aturem. Vou me permitir uma citação de O cemitério de Praga, do Umberto Eco, lançado pela Record, sobre a chacina dos communards: “O que me impressionou naqueles rostos, e sinto certo constrangimento em escrever isso, foi a indiferença: pareciam aceitar, dormindo, a sorte que os reunira”.

Não vou criar meus netos em clima de gueto, sendo imprensados contra a parede ou dando a outra face. Aceitação é o cacete! Será, até o fim, chacota por chacota, pilha por pilha, palavrão por palavrão – e sou muito bom nisso.

Abraço fraterno,

Aldir

P.S. 1 – Quando falei do Eurico, ia caindo na armadilha de escrever “um sujeito que estaria preso em qualquer país civilizado…”, mas, pensando bem, qual? Nos Estados Unidos de Barak Obanana pactuando com o Tea Party, enquanto Wall Street lesa a população? Na Itália de Berlusca Bunga-Bunga? Na França de Sarkozy, grande vendedora de armas para a patuleia se matar, deixando o terreno limpo? Em Israel, onde o premiê Bibi roubou os móveis na última gestão, e agora pretende uma guerra nuclear contra o Irã? Na Grécia (li, hoje, no jornal que os tecnocratas gregos precisam aprender. Com quem? Com os do Lehman, talvez…)? Na Espanha, pra ver o treslocado José Mourinho enfiar o dedo no olho do adversário? Na Polônia ou Bulgária, com suas prisões secretas para torturar suspeitos de terrorismo? Talvez no Canadá ou Suécia, mas minha fratura não aguentaria.

Xápralá. Mamaluf e Horroriz continuam soltos, serialmente mais perigosos que alas inteiras de Bangu 1, 2, 3, 4, 5, 6… Viajei na maionese e plaft!

P.S. 2 – Dapieve, quando aquele narrador falar, pela milionésima vez, sobre “o talento do menino Negueba”, você me visita no Tijucor?

 

* Na imagem da home que ilustra este post: o zagueiro vascaíno Dedé na vitória (5 x 2) sobre o Universitario (Peru), ontem (9/11/11) no estádio de São Januário. Foto: globoesporte.com

 

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