O IMS-RJ apresenta a partir de 25 de fevereiro a exposição O estúdio fotográfico Chico Albuquerque. A curadoria é de Sergio Burgi, coordenador de fotografia do IMS e também autor do texto de apresentação cujo excerto apresentamos abaixo, retirado do catálogo da exposição. São 120 imagens da produção do fotógrafo em seu período de atuação em São Paulo, selecionadas a partir de suas principais vertentes.
Chico Albuquerque notabilizou-se como um dos pioneiros da fotografia de publicidade no Brasil ao fotografar, em 1949, a primeira campanha publicitária ilustrada por um brasileiro. Referência no país nas áreas de fotografia de estúdio (retratos), fotografia publicitária, fotografia industrial, fotografia de arquitetura e de documentação urbana, o estúdio de Chico Albuquerque, com sede na avenida Rebouças, 1700, criou, durante os seus quase 30 anos de atividade, um acervo de mais de 75 mil imagens fotográficas, em sua maioria negativos originais, em preto e branco ou em cores. Voltado no início principalmente para o retrato, o endereço escolhido buscou a proximidade com a potencial clientela das novas áreas dos Jardins, bairros paulistanos abastados que viriam a constituir, efetivamente, sua principal clientela para portraits, retratos de casamento, primeira comunhão, baile de debutantes e outros eventos familiares.
Filho de um cinegrafista amador, Chico Albuquerque realizou, aos 15 anos, um documentário de curta-metragem com seu pai. A experiência com o cinema o levou à fotografia. Com o dinheiro obtido pelo filme, seu pai montou um laboratório de fotografia, onde, em 1934, Chico Albuquerque tornou-se profissional, fazendo retratos. Em 1942, ele trabalhou como fotógrafo de cena nas filmagens do mítico It’s All True, filme inacabado dirigido por Orson Welles no Ceará. Segundo o próprio Chico Albuquerque, a convivência com Welles influenciou toda sua carreira. Segundo declarou, antes de conhecer Welles não sabia nada de composição, mas o diretor mostrou “que era necessário ter uma noção de estética para se fotografar corretamente”. It’s All True acompanhava a saga de um jangadeiro cearense que morreu durante as filmagens. O tema reforçou a identidade de Chico Albuquerque com sua terra natal. Em 1952, retornou a Fortaleza para realizar um de seus ensaios mais célebres, Mucuripe, que registrava a paisagem cearense e a dinâmica da vida dos jangadeiros.
Quando Chico Albuquerque se transferiu para São Paulo, em 1947, após estágios no Rio de Janeiro com os fotógrafos especializados em portrait Stefan Rosenbauer e Erwin von Dessauer, o mercado fotográfico ainda era restrito e voltado, sobretudo, para reportagens de família e retratos de estúdio. Atuando a princípio exclusivamente como retratista, destacou-se ao fotografar personalidades como Juscelino Kubitschek (1902-1976), Cacilda Becker (1921-1969), Victor Brecheret (1894-1955) e Burle Marx (1909-1994), entre outros. Por meio de enquadramentos fechados e da ênfase na expressão dos olhares, os retratos sugerem o estado psicológico dos modelos ou mostram flagrantes de emoções. O aspecto teatral dos registros é realçado pelo tipo de iluminação geralmente lateral, com sombras marcadas e contraluzes.
Em 1949, trabalhou na primeira campanha publicitária ilustrada com imagem realizada por um fotógrafo brasileiro para a Johnson & Johnson, assinada pela agência J.W. Thompson. Foi o primeiro de muitos trabalhos para campanhas publicitárias entre as décadas de 1950 e 1970. Fotografou para propagandas de automóveis, alimentos, roupas, perfumes, eletrodomésticos e muitos outros produtos, realizou trabalhos comissionados para indústrias e serviços, além de documentar projetos de arquitetura. Em 1958, importou o primeiro equipamento de flash eletrônico do Brasil. Seu pioneirismo na fotografia de publicidade ainda é pouco conhecido. Poucas imagens de seu acervo, composto por milhares de negativos, já vieram a público. Imagens inéditas de campanhas de publicidade, como as que fez para Rinso, Singer e Johnson & Johnson, entre outras, além de conjuntos inéditos de fotografias de arquitetura, indústria, documentação urbana e de retratos de estúdio (portrait), estão reunidas nesta publicação e recuperam o universo criativo e autoral de Chico Albuquerque nesses anos de maturidade profissional e artística em São Paulo.
* Sergio Burgi é coordenador de fotografia do IMS.