Show “Acabou chorare” por Moraes Moreira

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26.08.11

Em 23/8/11, o Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro apresentou o show Acabou chorare por Moraes Moreira, com a participação especial do filho do músico, Davi Moraes. Além de interpretar as composições do disco, Moraes Moreira contou ao público um pouco sobre a história do LP (clique aqui para ler texto de Luiz Fernando Vianna sobre o disco).

Este show (aqui na íntegra) faz parte da série produzida pelo IMS, iniciada em 2010, dedicada a grandes discos da música popular brasileira. O primeiro a receber a homenagem foi A arte negra de Wilson Moreira e Nei Lopes, de 1980. Depois foi a vez do disco Monarco, de 1976, o primeiro solo do sambista. Em abril deste ano, Edu Lobo interpretou o repertório do memorável O grande circo místico, de 1983.

Abaixo, seguem as faixas do disco Acabou chorare comentadas por Luiz Fernando Vianna.

1 – BRASIL PANDEIRO (Assis Valente): a delicada introdução ao violão, de Moraes Moreira, já deixava claro que os Novos Baianos não eram os mesmos do disco de estreia, É ferro na boneca!. Em uma composição esquecida do esquecido Assis Valente, que morrera em 1958 na terceira tentativa de suicídio, o grupo apresentava a troca do rock pelo samba no ponto maior de seu altar, conversão realizada por João Gilberto em visitas noturnas ao apartamento coletivo de Botafogo.

2 – PRETA, PRETINHA (Moraes Moreira/Galvão): assim como na primeira música, o violão suave de Moraes abre os trabalhos e a craviola de Pepeu Gomes traz os solos roqueiros para o universo dos regionais de samba e choro. A faixa de mais de seis minutos conta com uma festa de vozes e sons, e a simplicidade da letra de Galvão (“Só, somente só”) espelha a transformação do grupo.

3 – TININDO, TRINCANDO (Moraes Moreira/Galvão): a mais roqueira do disco já começa com guitarra em alto volume, mas depois entram o triângulo (tocado por Baby Consuelo) e o cavaquinho (Jorginho), explicitando a desconsideração com as fronteiras tradicionais. Na letra, pautada em aliterações, o significante ganha do significado.

4 – SWING DE CAMPO GRANDE (Paulinho Boca de Cantor/Moraes Moreira/Galvão): o violão de Moraes e o vocalise de Paulinho Boca de Cantor na abertura são uma pitada do samba sincopado tão amado por João Gilberto. A letra faz um jogo de palavras com Campo Grande, lugar fundamental do carnaval de Salvador, e tem uma das características de Galvão: a incorporação de gírias do momento (“Eu não marco touca”).

5 – ACABOU CHORARE (Moraes Moreira/Galvão): uma canção joãogilbertiana desde a origem. “Acabou chorare” foi o que Bebel, misturando português com espanhol (tinha morado no México), disse para o pai quando ele se assustou vendo-a cair. Galvão juntou essa informação com uma conversa na qual exaltara a abelha por fazer mel, ao que João acrescentou pelo telefone: “E faz zum zum”. O clima infantil, conduzido por um violão bossa-nova, simboliza o reaprendizado dos Novos Baianos após o contato com João e o desejo de um mundo mais simples: “Acabou chorare/ No meio do mundo/ Respirei eu fundo/ Foi-se tudo pra escanteio”. De todos os sucessos do disco, este foi o maior.

6 – MISTÉRIO DO PLANETA (Moraes Moreira/Galvão): uma belíssima introdução ao violão e um crescendo misturando guitarra e percussão exprimem a alquimia sonora que o conjunto fazia. A letra traduz com inteligência o espírito hippie, tendo como narrador “um moleque do Brasil” que joga seu “corpo no mundo” e vive segundo a “lei natural dos encontros”.

7 – A MENINA DANÇA (Moraes Moreira/Galvão): outra ode à alegria, com interpretação marcante de Baby e mais tarde regravada por Marisa Monte. Samba e rock convivem agradavelmente na melodia, com espaço para que violão e guitarra brilhem.

8 – BESTA É TU (Moraes Moreira/Pepeu Gomes/Galvão): filosofia direta (“Não viver esse mundo/ Se não há outro mundo/ Por que não viver?”) e uma frase-título que caiu na boca do povo fizeram deste delicioso samba, com cavaquinho e pandeiro em destaque, um dos motivos da popularização dos Novos Baianos. O futebol, evocado em várias letras e que daria o tom do disco seguinte (Novos Baianos F.C.), aparece aqui, junto com a “morena do rio”, para lembrar que a vida vale a pena: “Olha só, olha o sol/ O Maraca domingo”.

9 – UM BILHETE PRA DIDI (Jorginho Gomes): A única faixa instrumental mistura forró, rock e choro, fazendo coexistir no mesmo tema as paixões dos irmãos Jorginho e Pepeu por Waldir Azevedo, guitarristas de rock e trios elétricos – universo do qual o grupo se aproximaria muito em seguida. A música é dedicada ao outro irmão Gomes, que entraria mais tarde nos Novos Baianos.

 

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