Paulo Raviere

Substituir José de Alencar, por exemplo

Paulo Raviere

14.11.18

Nas escolas a leitura é desvinculada do cotidiano, mas quem lê por prazer frequenta ao mesmo tempo obras díspares: o Rubaiyat convive com os ensaios de Lamb, Charlie Chan Hock Chye e a nova temporada do Demolidor na Netflix. Assim seria possível misturar gêneros, mídias, lugares e épocas conforme a conveniência, aproximando o estranho do habitual, o erudito do popular – como na “vida real”.

Trabalho de luto

Carla Rodrigues

31.10.18

Quando, em "Luto e melancolia", Freud deixa em aberto a medida do tempo necessário para superar o luto, esse talvez seja o melhor antídoto contra um dos maiores clichês: “a vida continua”, como se uma grande perda devesse e pudesse ser encarada com grande naturalidade.

O real é o que resta

Renato Galeno

16.10.18

Quando a ficção científica, como a obra de Philip K. Dick, é mais real que o presente: o “processo civilizador” descrito por Norbert Elias – a crescente autocontenção da parte animalesca do ser humano – parece ter esbarrado no muro dos grupos de WhatsApp. A crença em “verdades” não fundamentadas possibilita a normalização da violência.

A reprodução da gritaria

Camila von Holdefer

26.09.18

Com ou sem censura, a discussão que se formou em torno da figura e da obra de Robert Mapplethorpe com a polêmica no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, ao mesmo tempo em que diz algo sobre o presente, faz emergir um episódio do passado. Continuamos a explorar e a mobilizar o pânico e o moralismo, buscando brechas na educação e fissuras na tolerância para dizer o que a arte deve ou pode representar, e de que maneira, e para quem.

Corpos em resistência e aliança

Carla Rodrigues

28.08.18

Em seu novo livro, Judith Butler marca a importância da materialidade do corpo na discriminação entre corpos que importam e corpos que pesam. É uma forma de apontar como as demandas básicas do corpo estão no centro das mobilizações políticas.

2018 e suas memórias

Carla Rodrigues

16.05.18

Recebi um convite para uma reunião da turma da escola, 40 anos de conclusão do segundo grau. Penso nesses 40 anos quando vejo em torno de mim todas as homenagens aos 50 anos de Maio de 1968, seu espírito revolucionário, suas promessas de futuro que ainda estão aí, ora nos assombrando como fantasmas, ora nos animando a ir às ruas de novo e mais uma vez. Há debates, livros, seminários, e há sobretudo o fato de que, se na França ou na Alemanha 1968 é um marco em direção a um novo futuro, no Brasil é o ano do assassinato, pela polícia, do estudante Edson Luís, da Passeata dos Cem Mil e da decretação do AI-5.

Nós, pessoas em silêncio

Carla Rodrigues

17.10.17

Há uma geração inteira de jovens que prefere o envio de áudios sucessivos às longas conversas telefônicas que marcaram minha adolescência, incluindo o estranho debate sobre quem desligaria o telefone primeiro. Há uma geração inteira de jovens cuja troca de textos diários pode significar relações silenciosas, pautadas mais por emojis do que por palavras.

Escrita, nomadismo e queer

Mariana Lage

25.09.17

Em Argonautas, Maggie Nelson (foto) trabalha com o indizível da experiência e o avesso das palavras. A escrita, apesar de ferramenta para demarcar ou evidenciar o nomadismo, será sempre insuficiente diante da movência do que existe. As palavras se movem, os sentidos se alteram, as peles, os gêneros e os sexos se desdobram de um jeito particular, inaudito.

Atividade organizada

Camila von Holdefer

31.07.17

Publicado no segundo semestre de 2015, Strange Tools é o livro mais irregular de Alva Noë. Se falha em apresentar um texto mais rigoroso, porém, a provocação que oferece é bem-vinda. Quando Noë pensa de forma um tanto tortuosa, ainda assim pensa melhor do que a maioria. Em poucas páginas, partindo da natureza humana, o filósofo norte-americano procura explicar a arte e os mecanismos pelos quais ela se transforma continuamente.

Todo mundo mente

Carla Rodrigues

19.12.16

Na experiência cotidiana, estamos todos diante da impossibilidade de distinção entre verdades e mentiras – da timeline do Facebook ao noticiário, dos discursos dos políticos aos programas dos candidatos, da publicidade aos grandes juristas, do plebiscito inglês que promoveu o Brexit ao futuro presidente dos EUA, Donald Trump, do Congresso ao STF, numa lista infinita de exemplos que 2016 não nos deixará esquecer tão cedo.