Conversas na galeria

Em cartaz

12.07.16

Nada como uma boa conversa para iluminar os processos de criação de um artista, e ajudar a enxergar um pouco além do que está diante dos nossos olhos. Entre 16 de julho e 10 de agosto, novas edições do projeto Conversas na Galeria, coordenado pelo departamento de educação do Instituto Moreira Salles, vão acontecer em torno das exposições Modernidades fotográficas: 1940-1964, com trabalhos de José Medeiros, Thomaz Farkas, Marcel Gautherot e Hans Gunter Flieg; Millôr: obra gráfica; e Meus caros amigos – Augusto Boal – Cartas do exílio, todas em cartaz no IMS-RJ, com a participação de pesquisadores e de quem conviveu de perto com os personagens.

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Em sentido horário, a partir do alto, à esquerda: Clara de Andrade, Cecilia Boal, Mauricio Lissovsky e Claudius Ceccon

No primeiro encontro, dia 16 de julho, o historiador e professor Mauricio Lissovsky voltará seu olhar para as 160 imagens reunidas na mostra Modernidades fotográficas: 1940-1964, que já passou por Berlim, Lisboa, Paris e Madri, e fica em cartaz na Galeria Marc Ferrez do IMS até fevereiro de 2017. O conjunto, que tem curadoria de Ludger Derenthal, coordenador da coleção de fotografia da Kunstbibliothek, em Berlim, e de Samuel Titan Jr., coordenador executivo cultural do IMS, revela os registros de quatro importantes fotógrafos brasileiros sobre uma época de grandes e rápidas transformações do país.

“Há várias abordagens possíveis para se fazer numa exposição como esta, mas pretendo, a partir das imagens, entender onde os fotógrafos querem mostrar que são modernos, e onde a modernidade passou pelas imagens sem que eles percebessem”, observa Lissovsky, roteirista de cinema e TV, e professor de Teoria da Imagem e da Visualidade na pós-graduação da Escola de Comunicação da UFRJ. “Acho que a questão mais interessante é tentar encontrar onde essa modernidade se revelava como propriamente brasileira, local, ou se apenas mimetizava ou repetia padrões de modernidade europeia. O José Medeiros, por exemplo, é atravessado por uma brasilidade que é mais forte que a forma.”

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Boal em pauta

No dia 20 de julho, a arte de Augusto Boal será o tema da conversa que terá como convidada a psicanalista Cecilia Boal, viúva do criador do Teatro do Oprimido, responsável pelo instituto que leva o nome do dramaturgo, dedicado a promover sua obra. A mostra Meus caros amigos – Augusto Boal – Cartas do exílio, em cartaz na Pequena Galeria até 21 de agosto, é uma parceria do Instituto Augusto Boal com o IMS e, sob a curadoria do poeta Eucanaã Ferraz, consultor de literatura do IMS, apresenta ao público uma seleção da correspondência de Boal durante seu exílio político, entre 1971 e 1986.

“Creio que as cartas são muito diversas, retratam muitas facetas da personalidade dele”, diz Cecilia. “Sempre que me pedem para falar sobre ele abordo mais a questão política, motivo pelo qual Boal, eu e nossos filhos tivemos que viver fora do Brasil muito tempo. Dá para fazer um percurso do exílio dele através das cartas, isso me pareceu interessante nessa mostra.”

Cecilia conta que para ela foi surpreendente ver a quantidade de cartas que Boal  escreveu para a mãe, numa correspondência praticamente diária. “Eles eram muito unidos, mas não sabia dessa quantidade toda de cartas, só tomei conhecimento depois da morte dele. Boal contava absolutamente tudo para a mãe”, lembra Cecilia, dizendo que daria para fazer um livro apenas com este recorte.

Amigo Millôr

Para falar de Millôr e de sua genialidade multiplicada e explorada em diversos suportes, a Conversa na Galeria trará, dia 30 de julho, o desenhista, cartunista, arquiteto e designer Claudius Ceccon, diretor do Centro de Criação de Imagem Popular. Claudius conheceu Millôr quando tinha apenas 16 anos e foi trabalhar na diagramação da revista O Cruzeiro, publicação que, na época, publicava a seção “O Pif Paf”, feita por Millôr.

“Eu conversava semanalmente com ele quando vinha trazer a seção”, lembra Ceccon. “Millôr foi a única pessoa que me deu força quando mais tarde fui demitido por ter publicado uma página de desenhos de humor na ‘inimiga’ revista Manchete. Em 1964, quando ele lançou a revista O Pif Paf, tive o prazer de ser um dos colaboradores. Ficamos amigos, e nossa amizade se aprofundou com os anos”.

Claudius diz que a exposição Millôr: obra gráfica, que tem curadoria de Cássio Loredano, Julia Kovensky e Paulo Roberto Pires, e está em cartaz até 21 de agosto no IMS-RJ, “mostra a fusão de um refinado artista plástico e um genial frasista”.  “Mas ele foi muito, muito bom em tudo o que fez. Seu livro de Hai Kais é excepcional. A Bíblia do Caos (que reúne os pensamentos de Millôr) é puro prazer, em qualquer página que se abra”, afirma o cartunista, que acredita que o amigo estaria hoje se “deliciando com a mediocridade dos versos cometidos por Temer, o provisório”.

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De novo Boal

Augusto Boal volta a ser o tema do projeto dia 10 de agosto, com a participação da atriz, cantora e pesquisadora em teatro Clara de Andrade, que publicou em 2014 o livro O exílio de Augusto Boal: Reflexões sobre um teatro sem fronteiras (Editora 7Letras), tema de sua dissertação de mestrado em Artes Cênicas na Unirio. Hoje doutoranda em Artes Cênicas pela mesma universidade, Clara continua a fazer da obra de Boal o objeto de sua pesquisa. No encontro no IMS, ela falará sobre a experiência e o impacto do exílio na produção do dramaturgo.

“O hiato provocado pelos quinze anos afastado do país e seu frequente sentimento de não-pertencimento ao meio teatral brasileiro, foram para mim o ponto de partida para desenvolver um olhar que leva em conta a subjetividade de Boal enquanto artista permanentemente exilado, mesmo de volta ao Brasil, após a anistia”, conta Clara. “A fase do exílio foi um período de grande produtividade e ampliação de seus horizontes como artista, educador e diretor teatral. Há um lado trágico, mas também um lado positivo no exílio. Hoje, o Teatro do Oprimido é praticado internacionalmente na Europa, África e Ásia, desde a França até a Índia, Moçambique e Turquia. De certo modo, foi o exílio que possibilitou que Boal rompesse tantas fronteiras e ganhasse o mundo”.

Clara não chegou a conhecer Boal pessoalmente, embora sua avó, a também atriz Isolda Cresta, tenha trabalhado algumas vezes com o dramaturgo. O longo mergulho na obra de Boal, contudo, inspirou-a a montar, entre 2014 e 2015, como atriz e coidealizadora, o espetáculo Crônicas de Nuestra América, adaptação para o palco das histórias que Boal escreveu exilado na Argentina.

“A enorme contribuição de Boal na renovação do teatro brasileiro, e mundial, faz com que suas ideias estejam presentes na formação teatral de várias gerações de artistas. Ele tem esse poder especial de reunir as pessoas em torno de uma ideia comum, e assim tecer uma enorme rede de afeto e criação. Ao lidar com as propostas de Boal, todos nós nos transformamos, pois como o próprio teatrólogo nos aponta, lutar contra uma opressão, transformar uma realidade é, antes de tudo, transformarmos a nós mesmos”, afirma Clara.

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SERVIÇO

Conversas na Galeria

Mauricio Lissovsky – Modernidades fotográficas: 16 de julho, sábado, às 17h

Cecilia Boal – Meus caros amigos  Augusto Boal Cartas do exílio: 20 de julho, quarta-feira, às 17h

Claudius Ceccon – Millôr: obra gráfica: 30 de julho, sábado, às 17h

Clara de Andrade – Meus caros amigos  Augusto Boal Cartas do exílio: 10 de agosto, quarta-feira, às 17h

Eventos gratuitos sujeitos à lotação da sala.

 

Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro

Rua Marquês de São Vicente, 476 – Gávea, Rio de Janeiro
Informações: (21) 3284-7485

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