Vitória do conto, por nocaute

Literatura

10.10.13

Alice Munro

Não foi desta vez, Murakami. Nesta manhã a Academia Sueca anunciou Alice Munro como a ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura de 2013. A escritora canadense, de 82 anos, é  a décima-terceira mulher e o primeiro cidadão do país a receber a honraria – Saul Bellow, contemplado em 1976, nasceu no Canadá mas viveu nos Estados Unidos desde os nove anos de idade e se naturalizou americano aos 25.

“Mestra do conto contemporâneo”, de acordo com o anúncio da Academia, Munro publicou o primeiro livro – Dance of the happy shades, sem tradução no Brasil – em 1968, aos 37 anos. Todos são antologias de contos, o que chama a atenção em um prêmio quase sempre concedido a romancistas e poetas.

Mais de uma pessoa envolvida com o mercado editorial brasileiro já comentou que “conto é a nova poesia”, se referindo à grande dificuldade de emplacar comercialmente livros do gênero. Ainda que respeitados pela maioria dos escritores por conta de suas dificuldades (e recompensas) específicas, contos não costumam ter o mesmo prestígio entre leitores e editores.

Mesmo com toda sua densidade e precisão de foco, o conto é encarado por muitos – especialmente no mercado anglófono, eternamente fascinado pelo romance – como uma mera etapa inicial na carreira de um ficcionista, como se fosse um gênero de formação, uma forma literária menor. Em 2012 a própria Munro confessou esse preconceito, em entrevista à New Yorker: “Por anos e anos imaginei que contos eram apenas um treino até eu ter tempo de escrever um romance”.

O Nobel certamente ajudará nas vendas de Alice Munro, que tem quatro livros publicados no Brasil – A Fugitiva, Felicidade demais e O amor de uma boa mulher, pela Companhia das Letras, e Ódio, amizade, namoro, amor, casamento, pela Editora Globo -, mas também proporciona a chance (ou ao menos uma esperança) de o mercado dedicar um pouco mais de atenção ao patinho feio da literatura contemporânea.

Notória pela reclusão, Munro anunciou a aposentadoria em julho deste ano. Não por desencanto ou cansaço, mas por um motivo bem pragmático. “Pode ser que na minha idade as pessoas não queiram mais ficar tão sozinhas quanto é necessário para um escritor”, declarou a contista em entrevista ao National Post. Agora talvez fique mesmo difícil.

* Daniel Pellizzari, redator do site do IMS, gosta bastante de contos mas nunca leu Alice Munro.

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