Abaixo, texto de Cecília Himmelseher e Marcela Isensee – estagiárias de jornalismo em atividade no Centro Cultural do Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro. Cecília e Marcela falam sobre mais um achado na Reserva Técnica e Literária do IMS: exemplares da primeira edição do Primeiro caderno do alumno de poesia, de Oswald de Andrade, o homenageado da Festa Literária Internacional de Paraty deste ano.
Neste inverno em que Oswald de Andrade é o homenageado da Festa Literária Internacional de Paraty, fez-se uma busca da presença do líder modernista na Reserva Técnica Literária do IMS-RJ. Foram encontrados dois exemplares da primeira edição do Primeiro Caderno do Alumno de Poesia, livro publicado em 1927, dois anos depois, portanto, da estreia de Oswald como o poeta revolucionário de Pau-Brasil.
A tiragem do Primeiro caderno é de 299 exemplares, numerados de 2 a 300, mais um, em edição especial, de luxo, feita especialmente para Tarsila do Amaral, com quem Oswald foi casado de 1926 a 1930.
O exemplar de número 225 está na biblioteca do poeta Carlos Drummond de Andrade, sob a guarda do IMS desde janeiro de 2011. O outro, de número 18, faz parte do pequeno acervo da Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM). Na página de rosto desse exemplar, Oswald de Andrade transcreveu o poema “Erro de português”, publicado pela primeira vez nas Poesias reunidas, em 1945.
A versão manuscrita de “Erro de português” funciona como dedicatória para Jayme da Silva Telles, um dos fundadores da SPAM, criada em São Paulo em 1932 com objetivo, entre outros, de promover manifestações artísticas que se alinhavam com o modernismo brasileiro.
O Primeiro caderno dá mesmo a impressão do caderno de poesias de um estudante: rabiscos e caricaturas ao lado dos textos se apresentam como rascunhos, esboços indecisos de fase imatura. Não faltou o cabeçalho, indispensável aos alunos aplicados. No de Oswald de Andrade, como não podia deixar de ser, a irreverência é a marca:
“ESCOLA: Pau-Brasil
CLASSE: primária
SEXO: masculino
PROFESSORA: A Poesia”
A capa do livro tem ilustrações de Tarsila do Amaral e desenhos do próprio Oswald para cada poema. Em “Meus oito anos”, o poeta parodiou os famosos versos de Casimiro de Abreu:
Adepto do exercício de parodiar, Oswald já havia se dedicado a outro clássico da poesia brasileira quando em 1925 publicou, em Pau-Brasil, o “Canto do regresso à pátria”, releitura da “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias.
“Minha terra tem palmares
onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá”
Na biblioteca de Otto Lara Resende, também sob a guarda do IMS, há ainda dois exemplares da versão fac-similar (1987) de O perfeito cozinheiro das almas deste mundo, diário escrito por Oswald e pelos frequentadores de sua lendária garçonnière, na rua Líbero Badaró, 67, em São Paulo. Ali, em torno do anfitrião, entre maio e setembro de 1918, as ideias modernistas efervesciam. Oswald e seus amigos preencheram 200 páginas de um caderno com diversos tipos de recados, trocadilhos, reflexões, colagens, poemas, cartas e até mesmo manchas de batom ou grampos de cabelo. Os colaboradores do diário não se identificavam, preferiam apelidos ou pseudônimos. Quem gostou dos textos assinados por Miramar e Garoa simplesmente apreciou José Oswald de Sousa Andrade, o autor que se escondeu por trás dos pseudônimos.
Os frequentadores da Flip poderão conferir trechos da edição fac-similar de O perfeito cozinheiro das almas deste mundo na Casa do IMS (rua do Comércio, 13, Centro Histórico, Paraty), sede do Instituto durante o evento. Na Casa, também será exibido um videodocumentário sobre a publicação,com depoimentos de Marília de Andrade, filha de Oswald, Marisa Moreira Salles e Jorge Schwartz, que participaram do projeto editorial de 1987.