Entre o terror e o luto
José Geraldo Couto
18.05.18
A primeira imagem de O processo é uma tomada aérea da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, com a câmera avançando em direção à Praça dos Três Poderes por sobre a cerca que separa apoiadores e opositores do impeachment de Dilma Rousseff. É de um país cindido ao meio que tratará este filme impressionante.
A luz vem da Ásia
José Geraldo Couto
11.05.18
Chegam do Oriente dois filmes que, cada um a seu modo, exploram a natureza da imagem, seus sentidos, seus efeitos: o japonês Esplendor, de Naomi Kawase (destaque), e o coreano A câmera de Claire, de Hong Sang-soo.
Infância selvagem
José Geraldo Couto
04.05.18
O que impede Ciganos da Ciambra de ser apenas um vívido registro naturalista de uma comunidade pobre é a dimensão moral, trágica, que adquire a trajetória de Pio. É, em essência, um romance de formação, ou antes de deformação. O filme de Jonas Carpignano é uma volta às origens do cinema italiano, a mostrar que este não se diluiu no sentimentalismo de um Tornatore nem na afetação de um Sorrentino.
Corpos fora do lugar
José Geraldo Couto
27.04.18
Filmes que abolem a fronteira entre o documentário e a ficção se tornaram nos últimos tempos quase um gênero à parte. Dois novos títulos brasileiros exploram esse território ambíguo, abordando, cada um à sua maneira, temas pungentes e atuais: o documentário com aspectos ficcionais Ex-pajé, de Luiz Bolognesi, e a ficção com aspectos documentais Cidade do futuro, de Cláudio Marques e Marília Hughes.
Mergulho no raso
José Geraldo Couto
20.04.18
Submersão, novo filme de Wim Wenders, não é ruim, embora desprovido da inquietação autoral e do grão de estranheza que caracterizavam seu melhor cinema. Já O terceiro assassinato transporta o japonês Hirokazu Kore-eda a um novo patamar.
Pesadelos contemporâneos
José Geraldo Couto
13.04.18
Não é toda semana que entram em cartaz novos filmes de três grandes autores em plena forma, como está acontecendo bem agora, com Roman Polanski (Baseado em fatos reais), Hong Sang-soo (O dia depois) e Kiyoshi Kurosawa (Antes que tudo desapareça). Cada um com sua poética pessoal e intransferível, eles ajudam a iluminar o desconcerto do indivíduo dentro de um mundo enlouquecido e esfacelado.
Baladas do lado sem luz
José Geraldo Couto
06.04.18
Em momentos de trauma político e social, o cinema pode servir como válvula de escape, mas pode também aprofundar o conhecimento e a reflexão sobre o real, além de manter viva a sensibilidade que os tempos brutais tendem a embotar. Dois filmes brasileiros realizam com brio essa nobre vocação: o road movie proletário Arábia, de Affonso Uchôa e João Dumans, e o documentário Em nome da América, de Fernando Weller.
A mulher no labirinto
José Geraldo Couto
29.03.18
Afinal, o que quer uma mulher? A pergunta, que tem desconcertado tantos homens sabidos, de Sigmund Freud a Caetano Veloso, às vezes recebe uma resposta enganosamente simples: amor. Pois essa resposta leva a outra pergunta, ainda mais complexa: e o amor, o que é? Por esse labirinto de interrogações que geram outras interrogações trafega o novo filme da francesa Claire Denis, Deixe a luz do sol entrar.
Nosso mundo movediço
José Geraldo Couto
23.03.18
Entre os cineastas mais fortes e originais da atualidade está a argentina Lucrecia Martel, ainda que sua obra se resuma por enquanto a apenas quatro longas-metragens. Mais do que propriamente um estilo, o que unifica esses quatro filmes tão diferentes entre si é antes um método: um modo oblíquo e fragmentado de encarar os seres e as ações, como quem os colhe em pleno andamento e ainda busca os nexos que lhes deem sentido.
Alemanha adentro, mundo afora
José Geraldo Couto
16.03.18
Em pedaços e Western (foto), dois filmes alemães, refletem de modos diferentes e até contrastantes sobre a complexa relação da Alemanha com o mundo contemporâneo. Não são painéis sociológicos ou políticos, mas histórias concentradas na trajetória de uns poucos personagens comuns, ou quase.