José Geraldo Couto

Pesadelos contemporâneos

José Geraldo Couto

13.04.18

Não é toda semana que entram em cartaz novos filmes de três grandes autores em plena forma, como está acontecendo bem agora, com Roman Polanski (Baseado em fatos reais), Hong Sang-soo (O dia depois) e Kiyoshi Kurosawa (Antes que tudo desapareça). Cada um com sua poética pessoal e intransferível, eles ajudam a iluminar o desconcerto do indivíduo dentro de um mundo enlouquecido e esfacelado.

Baladas do lado sem luz

José Geraldo Couto

06.04.18

Em momentos de trauma político e social, o cinema pode servir como válvula de escape, mas pode também aprofundar o conhecimento e a reflexão sobre o real, além de manter viva a sensibilidade que os tempos brutais tendem a embotar. Dois filmes brasileiros realizam com brio essa nobre vocação: o road movie proletário Arábia, de Affonso Uchôa e João Dumans, e o documentário Em nome da América, de Fernando Weller.

Nosso mundo movediço

José Geraldo Couto

23.03.18

Entre os cineastas mais fortes e originais da atualidade está a argentina Lucrecia Martel, ainda que sua obra se resuma por enquanto a apenas quatro longas-metragens. Mais do que propriamente um estilo, o que unifica esses quatro filmes tão diferentes entre si é antes um método: um modo oblíquo e fragmentado de encarar os seres e as ações, como quem os colhe em pleno andamento e ainda busca os nexos que lhes deem sentido.

Alemanha adentro, mundo afora

José Geraldo Couto

16.03.18

Em pedaços e Western (foto), dois filmes alemães, refletem de modos diferentes e até contrastantes sobre a complexa relação da Alemanha com o mundo contemporâneo. Não são painéis sociológicos ou políticos, mas histórias concentradas na trajetória de uns poucos personagens comuns, ou quase.

A crista da onda negra

José Geraldo Couto

02.03.18

Pantera negra é o primeiro (e possivelmente o último) filme de super-herói a ser comentado nesta coluna. A razão da discutível honra é simples: o filme de Ryan Coogler é desde já um marco na história de Hollywood e do cinema de entretenimento. Sobra também um espaço pequeno para falar de um artista imenso, Luchino Visconti.

Somos todos críticos

Paulo Raviere

27.02.18

Por mais desagradável que seja, o feedback é inevitável: do filé improvisado à piada de boteco, tudo recebe um parecer. Mas muito pior que uma crítica negativa é a sua falta. Nenhuma ofensa é tão corrosiva quanto a indiferença e o esquecimento.

Terra estrangeira

José Geraldo Couto

23.02.18

Os indicados à categoria “Filme em língua estrangeira” do Oscar permanecem mais tempo em cartaz do que o normal em nosso circuito voraz. Pode ser interessante observar em conjunto os dois representantes do leste europeu: o russo Sem amor, de Andrey Zvyagintsev, e o húngaro Corpo e alma, de Ildikó Enyedi. Ambos são dramas urbanos contemporâneos, centrados em afetos esquivos, abortados ou insuficientes entre personagens de classe média, sem grandes carências materiais.

Irmã das coisas fugidias

José Geraldo Couto

26.01.18

O cinema, entre muitas outras coisas, é uma arte do encontro. A prova definitiva disso, se é que faltava uma, é o adorável documentário Visages villages, de Agnès Varda e JR, em cartaz no IMS Paulista e no IMS Rio. Não só pela parceria improvável de seus realizadores e protagonistas – uma cineasta de quase 90 anos e um fotógrafo e muralista de 34 –, mas também por seu tema e seu método de construção.

A pioneira Carmen Santos (1904-1952)

Mulheres do cinema, cinema das mulheres

José Geraldo Couto

19.01.18

Num cinema de história intermitente e espasmódica como o brasileiro, pontuado por surtos, interrupções e fracassos, e ainda por cima marcadamente masculino, várias gerações de mulheres podem ser vistas como pioneiras e desbravadoras. Nesse contexto, poucos eventos poderiam ser tão oportunos como a mostra Mulheres, câmeras e telas, da Cinemateca Brasileira, em São Paulo, que inclui da pioneiríssima atriz, produtora e diretora Carmen Santos a jovens realizadoras de hoje, como Julia Murat e Juliana Rojas,  passando por Tata Amaral, Eliane Caffé, Laís Bodanzky, Anna Muylaert, Lina Chamie e outras.

Crônica contra as mortes anunciadas

José Geraldo Couto

08.01.18

Contra o costume desta época de férias, em que geralmente os blockbusters infanto-juvenis alijam do circuito exibidor os bons filmes para adultos, o ano começa muito bem para os cinéfilos brasileiros. Entre os filmes já em cartaz e outros que entram esta semana, as opções são muitas: The square, 120 batimentos por minuto, Roda gigante, O pacto de Adriana, O jovem Karl Marx...