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Meu querido Dapieve:
A frase do Verissimo, citada por você, é, de fato, precisa. Quando, no domingo passado, o Grêmio virou pra riba do império midiático, saiu uma das maiores trocas de palavrões do bairro – e olha que estou na área faz tempo. Um garoto gritou “Fogo!” e depois acrescentou uma gozação aos que “caíram de quatro porque o Ronaldinho gosta…”. Recebeu de volta um canhoneio digno do Dia D, mas não refrescou. O resultado é que pude anotar (para uso futuro) em meu canhenho, oba!, algumas expressões curiosíssimas, incluindo uma sobre a orla de pêlos em torno do ânus. Enquanto o tiroteio verbal comia, minha mulher, tal musa de Orestes Barbosa, sorria por trás da veneziana e esfregava as lindas mãos:
– Caceta, parece minha infância em Vila Valqueire…
Três vivas ao Verissimo!
Eu pretendia mesmo digiescrevinhar umas observações sobre o “rude esporte bretão” (homenagem póstuma ao grande botafoguense Luiz Mendes). No fundo, poderiam ser resumidas numa única frase: como tem cascateiro “comandando” times no futebol tupiniquim! Van Luxemba continua impávido em sua linha de raciocínio (???) “tudo dentro do que planejei”, ou seja, ele, tático brilhante, optou por dez jogos sem vitória, tomou quatro de virada dos garrastazuis etc. Tenho um neto paulistano, o Vinícius, Corinthians de chorar. O Doutor Professor Tite – e não perdoo isso – engabelou o garoto com argumentos cretinos: “Começamos a 150%. Isso não podia continuar. Então, caímos para uns 70%, estamos atingindo, agora sim, a nossa meta para a chegada, buscando o campeonato”. Gostaria que Tite explicasse o seguinte: os numerosos times que foram campeões invictos eram formados por anormais, como os que faziam pacto de morte atrás da Central do Brasil, nos anos 50?
Já contei que um amigo, botafoguense e marrento, foi a São Paulo ver um jogo e ficou o tempo todo prestando atenção exclusivamente em Adilson Já-Caiu. Meu amigo, com papel e lápis, fazia um pauzinho para cada “instrução” do elogiado técnico (as torcidas que o brindaram com diversos nomes podem confirmar quanto ele foi elogiado…). No fim do jogo, o tal papel tinha duzentas e tantas ordens gritadas aos desnorteados jogadores, com aquelas mãos, que parecem de deuses indianos, indicando como devem se posicionar em campo. Dizem que num jogo no qual Rivaldo estava com otite e foi pro sacrifício, o São Paulo brilhou. Seu astro não ouvia direito. Para resumir esses excelentes salários que não coincidem com a realidade em campo, podemos citar a figura zen do Enrolador-Mor: Mano Menezes. À exceção de raras jogadas individuais, ainda não consegui ver N-A-D-A na seleção dirigida por ele. Não ganharemos a Copa em casa – até porque a casa não é nossa. Trata-se de um aparelho do PC do B (mais um).
Eu não chorava por motivos políticos desde a prisão, durante a corrupta ditadura militar, da turma do Pasquim. Quando soube da nomeação de Aldo, o Desmatador, Rebelo para substituir Orlando Furioso, senti os olhos molhados e pensei: “Isso é brincar com a verdade. Preciso chamar logo o Dr. Paschoal Chrispin pra ver isso. Estou empurrando o problema com as córneas desde que a diabetes 2 apareceu”. Fui ao espelho e tive que me convencer do óbvio: eu estava chorando de raiva.
É triste o espetáculo público de uma mulher de brio, ex-guerrilheira, que chegou à Presidência da República, tornar-se refém de um partideco que só faz aparelhar os bicos que abocanha. O nefando procedimento é muito antigo. Há quase 20 anos, o PC do B fez uma aliança espúria com o pior tipo de corporativismo e venceu eleições num órgão fiscalizador do Rio. Algumas preciosidades éticas da linha neoalbanesa: um membro da diretoria responde – se ainda não varreram pra baixo do tapete – por dois assédios sexuais, arrastando funcionárias para o escurinho do almoxarifado. Outra: uma das primeiras presidentas do, hum, órgão usava o cargo oficial para encontros com um reco, voltando ao batente no fim da tarde. Você deve ter notado que, por delicadeza, não a chamei de membro da cópula, desculpe, cúpula. Uma balzaquiana tão voluptuosa merece o título de direxota.
Eles estão lá até hoje. A Dilma que, no bom sentido, abra o olho.
Hoje, acordo e dou de cara com a manchete: faxina do Aldo não pode ser feita no Ministério dos Esportes porque esbarra em numerosos projetos do – tchãn! – PC do B.
Quero terminar, por uma questão de justiça, acrescentando: carece de fundamento que Aldo Rebelo, após a posse, encontrou sobre sua mesa um abaixo-assinado das funcionárias ministeriais cujo título era “NÃO QUEREMOS SER DESMATADAS”.
Abraço fraterno,
Aldir
* Na imagem da home que ilustra este post: o técnico Mano Menezes ao anunciar a convocação de jogadores para amistosos da Seleção em novembro (foto: Mowa Press)